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Andragogia: ensinando adultos a aprender

À medida que amadurecemos, formamos novos hábitos e tomamos caminhos que são capazes de moldar a maneira como agimos no mundo. Assim, o processo de aprendizagem também precisa ser readequado para uma nova realidade que se adapte à dinâmica de um adulto, que difere em alguns pontos do processo de aprendizagem de crianças e adolescentes. Nesse paralelo, a andragogia se põe como complementar à pedagogia ao que se refere ao processo orientação do indivíduo, para que esse seja capaz de aprender novas coisas de uma maneira que se adeque aos seus desejos e necessidades. Forma-se então não apenas uma nova forma de aprender, mas quando pensamos na aplicação do ensino, uma nova forma de ensinar a aprender. Vamos entender mais!

Caminhos para a educação: Treinamento, Ensino e Aprendizagem

Quando falamos em adquirir novos conhecimentos e habilidades, passamos por um processo de aprendizagem que é natural do ser humano (e da maioria dos animais). Frente a novas informações, criamos novas formas de agir que determinam o nosso comportamento. Esta forma de conhecimento, no entanto, pode ser passada para nós, de forma voluntária ou involuntária, o que caracteriza um processo de ensino. São complementares um ao outro: quando falamos em ensino e aprendizagem de forma conjunta, nos referimos a um sistema de interações comportamentais extremamente intrincado entre as partes envolvidas [1].

Podemos, entretanto, adicionar uma nova variável nesse dinamismo: o treinamento. Segundo Francisco Antonio Soeltl, baseado em obras anteriores, “o treinamento se refere a uma mudança nas competências, e o ensino como uma mudança no conhecimento; a aprendizagem é um processo em que estes são adquiridos com o objetivo de melhorar o desempenho” [2].

Assim, existe um espectro que trabalha-se para incentivar o desenvolvimento de competências, tanto em crianças, quanto em adultos. No estilo tradicional da educação que temos vigente desde as escolas religiosas da Idade Média, o processo de transmissão de conceitos ocorre nos primeiros anos de vida. Apenas mais tarde, com o avanço da longevidade do ser humano e necessidade de mão-de-obra cada vez mais especializada, surgiu a transmissão de processos.

Entre jovens e adultos

O acúmulo de experiências e a forma de lidar com o ambiente ao nosso redor faz com que nossas interações e objetivos mude com o tempo. Um garoto de 7 anos não conseguiria manejar seus próprios projetos de futuro, bem como um homem de 35 rapidamente se esgotaria com uma transmissão contínua e em pequenos passos de conhecimentos de mundo. As necessidades mudam, bem como a maneira com que lidamos com elas. Além disso, nosso aprendizado muda à medida que envelhecemos. Assim, o modelo educacional para formação e treinamento de adultos deve ser diferente do modelo tradicional com o qual criamos nossas crianças. 

A pedagogia refere-se a esse modelo inicial da educação voltada para as fases iniciais da vida. A própria análise do termo indica isso: do grego ‘paidos’, que significa ‘criança’, e ‘agein’, que significa ‘conduzir’. A andragogia, por outro lado, refere-se a educação voltada para idades mais avançadas: ‘andros’ significa ‘homem adulto’. Este termo foi originalmente cunhado no século XIX por Alexander Knapp, mas foi popularizado por Malcolm Knowles na década de 60  (para revisão, ver Knowles 2005 [3], e Madallena 2015 [4]).

O contínuo Pedagógico-Andragógico

Na pedagogia, exerce-se uma relação de inequidade. Temos de um lado o papel do professor, detentor do conhecimento teórico, que então o passará para as crianças de forma vertical. Recentemente, estudos se prolongam e surgem novas técnicas para reduzir a distância entre alunos e professores. Principalmente nos estágios mais tardios, como por exemplo durante a adolescência, para evitar o desgaste estudantil e fomentar a relação. Já na andragogia, o papel do estudante é central, e a relação com o instrutor é pautada na igualdade: ambos caminham juntos [5].

Falamos então de um contínuo: em um extremo, temos a aprendizagem direcionada, centrada no professor, com uma abordagem tradicional de aulas expositivas, sendo que para crianças este método tende a funcionar; do outro lado, temo uma aprendizagem que é facilitada pelo instrutor, mas que é centrada no aprendiz e no seu progresso, sendo dessa forma menos tradicional, mas mais eficiente para adultos [6]. 

A oposição e complementaridade entre Pedagogia e Andragogia

A andragogia deve se fundamentar em despertar no adulto a consciência da necessidade de instruir-se e sua noção de pertencimento na sociedade, partindo dos elementos de sua realidade e de relação com o mundo. Além disso, não deve se impor métodos, mas criar um que se encaixe em sua realidade, lembrando que aqui as prioridades de vida podem não ser as mesmas entre todos os alunos. O instrutor deve atuar como incentivador da busca independente de conhecimento [5].

Se levantam sete hipóteses sobre a andragogia [3]:

  • É necessário um ambiente de aprendizagem eficaz;
  • Os estudantes devem participar da elaboração do plano de estudos;
  • Participar na determinação de suas necessidades educativas, favorecendo auto-motivação, auto-avaliação e reflexão;
  • Estudantes devem saber que a responsabilidade principal de seu aprendizado é deles próprios;
  • Deve-se incitá-los a identificar recursos necessários para que atinjam seus objetivos;
  • Auxiliar os estudantes a colocar em prática seus projetos, com manejo das expectativas e objetivos;
  • Os estudantes devem estar envolvidos na sua própria avaliação, tendo assim um processo de aprendizado auto-dirigido baseado na reflexão crítica.

Princípios andragógicos por Knowles e o papel da motivação

Dessa maneira, Chotguis [7] propõe que o modelo andragógico deve se basear também em mais outros pressupostos:

  • Necessidade de Saber: os adultos investem energia investigando o que ganharão em aprender algo, então, necessitam saber porquê aprender;
  • Autoconceito de Aprendiz: os adultos respondem ao autoconceito de serem responsáveis pela própria vida, inclusive pelo o que aprende;
  • O Papel das Experiências dos Aprendizes: os adultos acumulam mais experiências e de diferentes tipos do que na juventude;
  • Prontos para Aprender: adultos estão prontos para aprender o que vai fazer diferença em sua vida cotidiana, em situação reais;
  • Motivação: as pressões internas, como desejo de satisfação no trabalho e auto-estima, são motivadores mais potentes para os adultos do que as externas, como melhores empregos, salários e etc.

Referências

[1] KUBO, O.M.; BOTOMÉ, S.P. Ensino-Aprendizagem, uma interação entre dois processos comportamentais. Repositório Digital Institucional UFPR – Interação em Psicologia. V.5 2001. http://dx.doi.org/10.5380/psi.v5i1.3321 

[2] SOELTL, F.A. E-learning no Brasil: retrospectiva, melhores práticas e tendências. QualityMark 1ª Ed, 2010. 857303937X

[3] Knowles, M.S., Holton III, E.F., & Swanson, R.A. (2005). The Adult Learner, 6, 15.

[4] Madallena, L.; (2015). WHAT THE #!$% IS ANDRAGOGY? Pedagogy for Grownups. Maddalena TRANSITIONS Management.

[5] Carvalho JA, Carvalho M, Barreto NAM, Alves FA. Andragogia – considerações sobre a aprendizagem do adulto. Abril 2010. Ensino, Saúde e Ambiente. http://dx.doi.org/10.22409/resa2010.v3i1.a21105

[6] Mendes, MCS. Andragogia: um novo olhar sobre a formação docente. Abril 2014. UniCesumar.

[7] CHOTGUIS, J., Andragogia – Arte e ciência na aprendizagem do adulto – Disponível em www.serprofessoruniversitario.pro.br – Acessado em 14/04/2010.