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O encontro da arquitetura com a neurociência no enfoque do “Monumento Sapiens”

por Jessica Carbone

Nossos ambientes construídos, obra do resultado de nossa criatividade, de nosso conhecimento e de nossas mãos, estão evoluindo. Para ver isso basta traçarmos um comparativo de uma construção de 1800 com os prédios de 2020 nos quesitos de estrutura, ventilação, tecnologia e outros atributos. Mas podemos considerar esses espaços – que foram obras geradas dentro de um ser criativo, com um repertório único, não-replicável, e com uma inclinação artística – como um espaço rígido? Sólido? Estático? Muitas vezes considerado hostil? 

Pois hoje eu te convido a observar os espaços que te cercam como um “espaço vivo” que interage, que influencia e que contém vida. Vida essa que é essência e matéria; matéria que se transforma e se torna arte, com um poder autêntico de comunicar e desencadear emoções. Nossos espaços construídos não podem ser levados como esculturas arquitetônicas quando dizemos arte, e tão pouco nosso mobiliário como preenchedor de layout. O ser ocupante do espaço é ponto de partida para a inspiração do design em si, e esse interage com o espaço que alguém criou, com algum propósito, servindo a um objetivo. Nessa interação entre pessoa e espaço surgem as emoções, que resultam em ações e comportamentos que transformam matéria construída em lugar de interação. Citando aqui o neurocientista Antônio Damásio, “as emoções são os verdadeiros meios neurológicos e químicos pelos quais compreendemos e percebemos o mundo, os meios que moldam quem somos”. 

Em muitos ambientes, um problema comum que pode ser encontrado é que as pessoas adentram o espaço sem o conhecimento adequado e, portanto, se comportam como visitantes passivos justamente por não terem as ferramentas necessárias para entender os conceitos, o design, a escolha de cada mobiliário e muitas vezes até a arte que veste suas paredes. Hoje, já sabemos que mesmo um espaço supostamente ‘neutro’ na verdade tem uma influência muito significativa em nosso sistema sensorial e nas respostas neurobiológicas que o corpo estabelece. Portanto, já podemos assumir a responsabilidade de nossas escolhas arquitetônicas e de design, ao invés de nos escondermos sob uma arquitetura baseada em tendências e referências mercadológicas. 

Esse texto é uma provocação de trazer o usuário do espaço, a pessoa, como um “monumento” dele – o “Monumento sapiens”. E o porquê disso? Deixe-me explicar desde a etimologia da palavra “monumento”, que vem do latim monumentum, e que está ligada a moneró, “lembrar”. Ou seja, um monumento representa uma das maiores expressões da arte de construir algo, portanto, meu convite é que você construa um espaço em favor do monumento “humano” que ocupa esse espaço. E em relação a esse humano, os mecanismos homeostáticos do corpo levam a uma experiência do ambiente que é antes de qualquer coisa emocional, e nisso adentramos na Neuroarquitetura, uma arquitetura que segue em investigação da sintonia com as mais profundas expectativas do homem.