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A gestão de pessoas e o uso das competências emocionais

A inserção da neurociência no mundo corporativo, apesar de ainda nova, está ficando cada vez mais evidenciada pelos seus benefícios na gestão de pessoas e otimização de relações, que refletem na satisfação dos funcionários e outcome empresarial. Uma das ferramentas de maior potencial que pode ser empregada nessa tarefa é o eneagrama, uma forma de análise de perfis comportamentais que é capaz de auxiliar no autoconhecimento e também na gestão de pessoas e equipes. Vamos entender um pouco mais sobre como podemos utilizar as competências emocionais para melhorar nossa gestão a partir dos padrões comportamentais dos eneatipos, otimizando assim as relações e o gerenciamento de tarefas.

Como gerir pessoas à luz da neurociência

Conhecer sobre tópicos da neurociência pode ser de grande valia para a gestão de pessoas. Podemos pensar a respeito de tópicos que já são trabalhados em empresas sobre como fazer essa administração de funcionários. Estes podem ser melhorados com ajuda de conhecimentos científicos, como podemos pensar em novas propostas que a ciência do cérebro pode trazer.

Em outro texto de nosso blog, trouxemos algumas dicas sobre como a neurociência pode melhorar a gestão. Atitudes fáceis e simples, como contar a história de sua empresa e pedir para seus funcionários compartilharem sobre si ajuda na construção de conexões e laços entre os envolvidos. Além de que dar espaço para que se sintam confortáveis e se expressem cria uma relação de confiança e compromisso. Desenvolver programas voltados para os seus colaboradores, como programas que incentivem boa alimentação, exercícios, e saúde mental, mostram que o esforço na construção da relação interpessoal não é unilateral e fortalece essa conexão.

Podemos utilizar o eneagrama nessa tarefa de gestão de pessoas. Se familiarizar com os tipos de personalidade nos dá conhecimento sobre como interagir da melhor forma. Dessa maneira, conseguimos saber sobre seus comportamentos típicos, forças e fraquezas, como se sentem confortáveis em algumas situações ou não. Além disso, ajuda também no entendimento pessoal e autoconhecimento, pois nos informa sobre nossos padrões comportamentais. Isso nos permitindo assim analisar nossas ações e reações e ponderar sobre elas. Assim, nos fornece diretrizes de como gerir e motivar a nós mesmos e nossas relações com os outros, visando uma melhora nos processos [1].

Trabalhe nas inseguranças e estimule a confiança

Construindo em cima de algumas das noções supracitadas, uma das grandes vantagens do uso do eneagrama nas empresas é que o mesmo permite aos seus usuários detectar, além dos padrões comportamentais que compõem sua personalidade, também características que emergem em situações específicas, como momentos de felicidade e tristeza. Aproveitar esses bons momentos é uma ótima maneira de melhorar suas habilidades nas quais queira trabalhar (as suas virtudes). Em contrapartida, enquanto que reconhecer os maus momentos e as ações que são resultados deles também se faz necessária para tentar revertê-las (os seus vícios).

Ao fazer isso com sua equipe, consegue-se então dar início a um processo de construção de uma relação de confiança, uma vez que cria um laço pautado no aprimoramento individual. Trabalhar nas inseguranças de seus funcionários é, portanto, uma relação mutualística, já que é harmônica para ambos os lados. Para o indivíduo, que irá se aperfeiçoar cada vez mais, e para a empresa, que irá ganhar com o aumento da moral entre seus colaboradores e portanto no seu desempenho.

Um breve adendo

Destacamos aqui a importância de se usar o Eneagrama da maneira correta. Podemos usá-lo como uma forma de análise para identificação de padrões comportamentais, mas em momento algum como um modelo comparativo entre pessoas. Tipificar os demais sem sua anuência e colaboração pode resultar em resultados errados e que podem, portanto, serem contraproducentes. Também, o uso das características de cada um de maneira acusatória impede a visão generalista que se busca com essa ferramenta que procura exprimir as individualidades de cada um. Por último, utilizar sua tipologia como bode expiatório para o mau comportamento impede alcançarmos o objetivo de sua implementação, que é auxiliar na introspecção e desenvolvimento de comportamentos saudáveis. 

Como gerir cada um dos eneatipos

A seguir, vamos explorar algumas características de cada eneatipo ligadas à capacidade que têm de serem geridas baseando-se em seus vícios, virtudes, motivações, forma de comunicação e como lidam com problemas, além de uma forma de definição de metas que potencialize seus resultados.

Tipo 1 – Perfeccionista

Esses indivíduos possuem um senso prático muito grande, priorizando finalizar tarefas, possuindo um alto nível de exigência, e por isso são chamados de perfeccionistas. Assim, estão sempre corrigindo o que está imperfeito, sendo extremamente críticos e julgadores. Isso resulta no vício da raiva, e para evitá-la, geralmente usam da formação de reação, ou seja, fazem o oposto do que estão sentindo.

O que os leva a ficarem numa empresa se baseia na percepção de quão éticos e respeitáveis são seus superiores e a organização. Para os perfeccionistas, a maior motivação é a capacidade de poderem melhorar. Assim, a melhor estratégia de comunicação é relacionar seus esforços com o propósito deles na empresa e como estão melhorando a mesma, com feedbacks os mantendo motivados.

Por terem um grande medo de errar, ficam ansiosos quando essa possibilidade se manifesta, então buscam por objetividade, eficiência e competência. Dessa maneira, uma ótima maneira de definir metas para esse eneatipo é alinhá-las aos seus valores e propósitos. Planos de contingência bem estabelecidos para evitar desdobramentos indesejados também funcionam.

Tipo 2 – Ajudante

As pessoas que adotam o eneatipo 2 são grandes conquistadoras devido sua capacidade de percepção dos que as rodeiam, sendo emocionais e orgulhosas, e por isso, apresentam uma atitude solícita de capacidade. Assim, também os chamamos de Ajudantes ou Prestativas(os). Por esse vício, acabam tendo dificuldade em reconhecer suas próprias necessidades, uma vez que sua atenção se volta para os outros.

Baseando-se em seu vício emocional, são indivíduos que permanecem em um trabalho ao experenciarem que são valorizados, respeitados e necessários para a empresa. Assim, o que os motiva é a capacidade de fazer a diferença na vida dos outros, o que os leva a reprimir seus sentimentos e necessidades pessoais. Portanto, se comunicar através do reconhecimento dos esforços é necessário, e colocá-los como colaboradores em projetos auxilia em sua realização de ajudar os demais.

Devido ao seu medo de desagradar, ficam receosos quando percebem que suas decisões irão de encontro às de alguém, e apesar de lidarem com problemas com uma atitude positiva, pecam ao equilibrar suas necessidades. Dessa maneira, um ótimo jeito de fazer a gestão dessas pessoas com isso é associar seus objetivos com o que se volta para o bem comunitário, definindo seus objetivos com um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Tipo 3 – Realizador(a)

O eneatipo 3 possui uma característica emocional que é a vaidade, que se mascara pela atitude progressista e eficiência, e por isso também são chamados de Bem-Sucedidos. São dirigidas pelo resultado, se relacionando pela utilidade da companhia. Isso faz com que procurem por reconhecimento e não prestem atenção na sua própria imagem.

Devido ao seu vício de vaidade, são indivíduos que permanecem em uma empresa ao experienciarem posições e recompensas que tanto buscam, se motivando pela vontade de ganhar e serem reconhecidos como os melhores. Dessa maneira, a melhor forma de comunicação com o eneatipo três é focar em discurtir seu desenvolvimento em objetivos.

Por terem medo de serem desvalorizados, buscam reconhecimento por meio de conquistas, ficando extremamente receosos quando seu sucesso está sob ameaça. Enfrentam problemas, portanto com eficiência e competência. Assim sendo, um ótimo jeito de definir metas é traçá-las de modo que não ponha em competição com os demais, definindo-as aos poucos para ter um senso claro de realização e progressão.

Tipo 4 – Individualista

Os indivíduos que são sensíveis aos seus arredores, grandes idealizadores e que possuem como vício a inveja, gerando grande insatisfação, são considerados no eneatipo 4. São chamados também de românticos, pela sua constante idealização e romantização de uma vida ideal. Se orientam pelo que lhes falta, sendo intensos emocionalmente como uma forma de dramatizar a realidade e tornar aquilo especial ou único.

Em um contexto corporativo, gostam de ser reconhecidos pela sua individualidade e inovação do seu trabalho, sendo motivados pela possibilidade de fazer um trabalho único. Assim, a melhor forma de fazer a gestão de pessoas é a comunicação com elas através do entendimento de sua singularidade, apreciando o acompanhamento de seus líderes.

Por  sua constante necessidade de singularidade, seu maior medo é não ter uma identidade própria, gerando grande ansiedade quando precisam atender às expectativas dos demais. Apresentam, então, uma necessidade de querer com que as pessoas espelhem seu próprio estado emocional. Visualizar seu futuro através de projetos criativos, atribuindo sentido às suas tarefas, é um caminho essencial para se manter motivado.

Tipo 5 – Investigador(a)

Pessoas que adotam o eneatipo Cinco são voltadas para o intelecto, necessidade de compreensão e extremamente racionais. Por apresentarem a avareza como vício emocional, acabam se expressando como pouco expressivos e distantes, e por isso também são chamados de observadores, por preferirem ficar em segundo plano para ter uma melhor análise situacional. Assim, são vistos como frios, calculistas e intensos supressores das emoções, se isolando para manter sua imagem quando não estão com domínio da situação.

O que os motiva na esfera profissional é a chance de terem privacidade, tempo para si e oportunidades de adquirirem grandes conhecimentos, numa constante jornada pela sabedoria, e isso deve ser levado em conta na gestão dessas pessoas. A comunicação com esses indivíduos deve se dar de uma forma que respeite seu espaço, tempo e possibilidade de analisar a situação.

Com medo de serem incompetentes, buscam entender o mundo para poder agir sobre ele. Dessa maneira, se tornam ansiosos quando estão com dificuldades de compreender algo. São extremamente competentes, sendo exímios traçadores de metas, elencando processos para que possam alcançar um objetivo final, sendo que os desafios os motivam.

Tipo 6 – Leal

O eneatipo 6 configura-se por pessoas que são atentas e desconfiadas, estando sempre preparadas para uma situação, pois se movem pelo medo. Dessa maneira, ficam com um pé atrás e que preterem o desconhecido ao conhecido. Portanto, se motivam pela segurança e pelo apoio, evitando ameaças que se manifestam ao imaginar sempre os piores casos.

Se motivam pela segurança e estabilidade, sendo características essenciais de seus empregos, valorizando assim relações de confiança com seus líderes e supervisores. Projetam nos demais características que não aceitam em si mesmos, evitando auto-rejeição. O medo de desamparo faz com que a melhor maneira de comunicação com seus colegas de trabalho seja através do apoio. Estimular a confiança em si mesmo, sendo que se relacionar através de mentoria é producente para esses indivíduos.

Assim, trabalhar com parceiros, criar estruturas através do planejamento, segmentar o trabalho, estabelecer metas e olhar para sua própria progressão, são ótimas maneiras de organização profissional para estes indivíduos.

Tipo 7 – Entusiasta

O eneatipo 7 tem alta capacidade mental para conseguir lidar com diversas coisas ao mesmo tempo. Seu vício emocional é chamado de gula por sempre serem ávidos e quererem mais. Sendo assim, também os chamamos de Sonhadores por terem grande quantidade de ideias e planos. Portanto, se sobrecarregam em tarefas como meio de fugir das emoções. Isso faz com que aparentem aos outros serem superficiais, focando no positivo e esquecendo-se do estresse e ignorando a dor. Se usam da racionalização como forma de justificar o afastamento da dor

Na vida profissional, procuram se manter em locais que exprimem leveza, diversão e variedade de oportunidades, especialmente se se manifestarem em um trabalho interessante e inovativo. São funcionários que estão sempre disponíveis para novas tarefas. Não é de se estranhar, portanto, que são propensos ao cansaço pelo acúmulo de tarefas e esse é um importante insight para a gestão de pessoas. Assim, é necessário se comunicar com eles sobre estruturação de todos os seus projetos e deveres, auxiliando em sua produtividade.

Por serem sonhadores, seu medo é de sofrerem privações. Assim, seus objetivos devem ser determinados pela vontade de valorizar o que é certo para você, ordenando-os de acordo com o que é mais importante, para poder gerenciar tantas tarefas. Pare, respire, e pergunte-se como está se sentindo, para assim reconhecer suas necessidades.

Tipo 8 – Desafiador(a)

Exímios líderes, o eneatipo 8 dá grande prioridade à realização, dominando a situação, o que é produto da inconsciente luxúria. Se posicionam a respeito do que querem e se expressam de forma direta e objetiva, passando uma aparência intimidadora. Por serem apegados ao poder, passam a imagem de serem pessoas insensíveis, e no exagero tendem a relevar o que outros sentem ou pensam. Se tornam propensos à raiva, ao confronto, e agem sem pensar.

Nas empresas, zelam por autonomia e controle sobre suas posições nas mesmas, além de um grande senso de justiça no uso de poder nas mesmas. Apesar de se mostrarem destemidos, são indivíduos que sentem medo. Assim, se põem em locais de controle para justamente se protegerem para que não percam o controle para outros. A gestão de pessoas desse eneatipo indica os colocar no comando da comunicação. Isso permite com que direcionem as conversas de uma forma que se sintam seguros e no controle.

São indivíduos que ficam ansiosos quando não estão no domínio da situação, pois têm medo de se ferirem e cederem o controle a outras pessoas. São expressivos, então descontentamentos ficam evidentes. Ao estabelecer objetivos com essas pessoas, é necessário entender se eles vem da vontade de controle e lembrar que moderação é fundamental. Fixar essas metas é necessário para orientar suas ações e evitar atitudes impulsivas.

Tipo 9 – Pacifista

Por último, os indivíduos do eneatipo 9, chamados também de preservacionistas, zelam pelo bem comum e agem como mediadores. Ao se pautarem na indolência como vício emocional, passam uma imagem tranquila, buscando preservar a paz e evitar conflitos. Esse vício faz com que essas pessoas se mostrem apáticas numa tentativa de não sofrerem os atritos da realidade. Assim, negligenciam a si mesmo para se conformar aos interesses dos demais.

Esse eneatipo se junta a uma empresa e se mantém nela quando seu trabalho, papel e objetivos estão bem definidos e se pautam em suas colaborações. Lidar com as pessoas que adotam esse eneatipo é produtivo quando os incentiva a tirarem um tempo para si para recanalizarem suas energias. Afastados de influências externas, reafirmam que dizer ‘não’ pode ser fundamental.

São pessoas que toleram muitas situações por terem medo de perder vínculos, gerando ansiedade quando suas decisões ou sentimentos podem levar alguém a abandoná-los. Por mais difícil que seja, identificar suas prioridades é necessário para traçar novos objetivos, evitando assim ser multi tarefas ligando-se a diferentes pessoas.

O que você como gestor pode fazer?

Os gestores de uma empresa podem usar do eneagrama para auxiliar na melhoria das interações dentro de uma empresa. Zelar por boas interações possui alta relevância para a produtividade de sua companhia e assim a gestão de pessoas pautada em uma ferramenta promissora se faz necessário.

Delegar tarefas, por exemplo, é um ótimo jeito de aproveitar talentos que estão escondidos ou mascarados em posições que não condizem com suas características. Atribuindo tarefas de diferentes naturezas é possível entender em quais as pessoas se destacam e em quais não são bem aproveitadas. Sabendo já o perfil de cada pessoa, fica mais fácil atribuir essas tarefas.

Podemos desenvolver uma característica que é incentivar a liderança de seus funcionários em sua empresa. Ao reconhecer formas que possam desenvolver suas virtudes e amenizar seus vícios auxilia no desenvolvimento de suas potencialidades, o que influencia na forma como encara suas tarefas e alterar seu desempenho nas mesmas.

Referências

[1] The Enneagram as a Tool of Management of Knowledge Workers. Mládková, Ludmila.  European Conference on Knowledge Management; Kidmore End Kidmore End: Academic Conferences International Limited. (Sep 2016): 614-621.

Anna Sutton, Chris Allinson, Helen Williams, Personality type and work-related outcomes: An exploratory application of the Enneagram model, European Management Journal, Volume 31, Issue 3, 2013, Pages 234-249, ISSN 0263-2373, https://doi.org/10.1016/j.emj.2012.12.004.

Kale, Sudhir H., and Samir Shrivastava. “The enneagram system for enhancing workplace spirituality.” Journal of management Development (2003).

“Applying the Enneagram theory to human resource management.” (2013).