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20 Heurísticas e Vieses Cognitivos mais conhecidos

Publicado originalmente em: bitbrain.com

Acreditamos que a realidade é exatamente o que percebemos. Mas, na verdade, isso é apenas uma ilusão do nosso próprio cérebro. Isso acontece porque nosso cérebro usa atalhos para interpretar informações e se adaptar ao nosso cotidiano: heurísticas nas quais o cérebro se baseia para entender a realidade percebida. Será que podemos sempre confiar em nosso cérebro quando ele utiliza esses recursos?

O cérebro representa apenas 2-3% do nosso peso corporal, mas consome aproximadamente 20% da nossa energia. É um órgão muito “dispendioso”, que busca constantemente maneiras de economizar energia e evitar altas cargas cognitivas. 

Esse comportamento do cérebro afeta diretamente nossos processos diários de tomada de decisão, que não são realizados de forma tão racional quanto gostamos de acreditar. Em muitos casos, nossas decisões são baseadas em heurísticas , procedimentos que nos auxiliam na hora de resolver um problema. Pensamos rápido graças a esses atalhos cerebrais, julgamentos intuitivos que se baseiam no processamento da informação com conhecimento parcial, na experiência ou em suposições. No entanto, essas heurísticas podem nos levar a julgamentos e decisões incorretas. É quando se produzem vieses – preconceitos cognitivos e crenças existentes que levam a erros, podem nos fazer agir irracionalmente ou ter uma interpretação ilógica da realidade.

Classificação de heurísticas e vieses cognitivos

Existem mais de 200 tipos de heurísticas e vieses cognitivos na literatura científica e é complicado classificá-los. A seguir, você vai ver uma classificação simples com base nos motivos que justificam o uso de alguns desses vieses:

Quando há muita informação

Estamos cercados por mais de 11 milhões de bits de informação por segundo e é impossível processar tudo mentalmente. Nosso cérebro emprega atalhos mentais para selecionar apenas aquela informação considerada útil. Por exemplo:

O cérebro se concentra mais em coisas associadas inconscientemente a conceitos que utilizamos com frequência, ou que utilizamos recentemente – Heurística da disponibilidade. Por isso, quando estamos no supermercado, encontramos rapidamente o produto que procuramos, ou quando estamos esperando um filho, vemos grávidas por toda parte (viés de atenção seletiva).

O cérebro concentra mais atenção e fornece mais valor para coisas estranhas, engraçadas, impressionantes e surpreendentes e geralmente omitimos informações que são consideradas comuns ou esperadas (efeito de von Restorff). Por exemplo, na imagem, ao empregar técnicas de neuromarketing como o sistema de eye-tracking, pode-se perceber que a zona de máximo interesse é a imagem da pessoa que sustenta o sinal, que é vista por 100% das pessoas e para quem o tempo máximo é dedicado. No entanto, os demais elementos são visualizados apenas por menos de 25% das pessoas e por menos de 0,25 segundos.

O cérebro é habilidoso para detectar que algo mudou e geralmente avaliamos essa novidade pelo efeito da mudança (positiva ou negativa) e não por seu valor (que é o valor que teria por conta própria, isoladamente – viés de ancoragem ). 

O cérebro geralmente concentra a atenção no que confirma nossas opiniões e crenças e ignora coisas que nos contradizem (viés de confirmação). Ou seja, o viés de confirmação é a tendência de dar muito mais credibilidade ao que está alinhado ao nosso pensamento, e isso nos faz valorizar mais a informação de um determinado meio de comunicação do que de outro.

O cérebro detecta defeitos em outras pessoas com muito mais facilidade do que nossos próprios defeitos (viés do ponto cego). Desta forma, pensamos que outras pessoas são muito mais impressionáveis ​​do que nós, por exemplo, com publicidade. O preconceito está relacionado ao viés do ponto cego, fazendo-nos atribuir mais responsabilidade aos acertos do que aos erros.

Quando não sabemos como dar sentido ao que está a nossa volta

Como processamos apenas uma pequena parte das informações necessárias para uma visão totalmente objetiva do mundo, preenchemos os espaços em branco para dar sentido ao que está ao nosso redor.

O cérebro encontra histórias e padrões até em dados dispersos (ilusão em série ou apofenia), o que é natural para evitar a sensação de estranhamento, de algo que não gostamos ou que nos deixa inseguros. É por isso que encontramos formas nas nuvens.

O cérebro preenche as informações que faltam com as melhores suposições (estereótipos,  experiências passadas ou de terceiros), mas também esquecemos quais partes eram reais e quais eram suposições. Por exemplo, avaliamos um hotel no Booking como muito bom por causa de avaliações muito positivas de outras pessoas, e não pela informação objetiva fornecida pelo estabelecimento (efeito manada).

O cérebro dá mais valor às pessoas ou coisas com as quais estamos acostumados . Em outras palavras, incluímos suposições sobre o que vemos. Por exemplo, normalmente pensamos que pessoas atraentes são mais inteligentes e gentis do que pessoas menos atraentes porque generalizamos uma característica positiva para todas as pessoas (efeito halo). O viés de correspondência ou erro de atribuição fundamental está relacionado, o que explica o comportamento com base no “tipo” de pessoa envolvida, e não em fatores sociais ou ambientais que cercam e influenciam a pessoa.

O cérebro simplifica probabilidades e cálculos, então é mais fácil pensar sobre eles. No entanto, não somos especializados em matemática e estatística intuitiva, e cometemos erros terríveis (falácia do apostador). Por exemplo, ao jogar roleta, não queremos apostar no “vermelho” se os cinco resultados anteriores forem vermelhos.

O cérebro nos faz acreditar que sabemos o que os outros pensam e moldamos a mente dos outros a partir de nossas próprias mentes (viés de falso consenso e viés de projeção). É por isso que acreditamos que todos vão adorar o filme que tanto gostamos.

O cérebro projeta nossa mentalidade atual para o passado ou futuro, fazendo-nos acreditar que é / foi fácil antecipar o futuro (viés retrospectivo). Portanto, uma vez que algo acontece, dizemos e sentimos que “já pensei assim”, embora provavelmente isso não fosse verdade.

Quando temos que agir rápido

Estamos limitados pelo tempo e pela quantidade de informações que podemos processar, mas não podemos deixar que isso nos paralise.

O cérebro nos fornece confiança excessiva em nossas capacidades para que possamos agir (viés de otimismo, viés do ator observador, efeito dunning-kruger). É por isso que muitas vezes pensamos que podemos lidar bem com uma situação de conflito que no final sai do controle.

Para nos manter focados na ação, o cérebro favorece o que é imediato e mais próximo ao que está longe no tempo ou distante (viés de desconto hiperbólico). Valorizamos mais as coisas no presente do que no futuro. Isso nos faz ignorar nossa dieta porque a recompensa de comer massa agora é muito mais irresistível do que a recompensa de perder peso, que só será alcançada em alguns meses.

O cérebro nos motiva a completar tarefas nas quais já investimos tempo e energia . Isso nos ajuda a terminar as coisas, mesmo quando temos muitos motivos para desistir. Por exemplo, a falácia dos custos irrecuperáveis leva o aluno a continuar estudando, apesar de odiar o curso, por já estar estudando há dois anos. A decisão correta seria simplesmente desistir (o que esse viés não permite que o aluno faça) e encontrar uma carreira realmente empolgante, ao invés de se arrastar por mais dois ou três anos para terminar um curso chato  .

O cérebro nos ajuda a evitar decisões irreversíveis (viés do status quo). Se tivermos que selecionar, geralmente escolhemos a opção que é percebida como menos arriscada ou que preserva o status quo. “Melhor o diabo que você conhece”. Isso torna difícil sair da nossa zona de conforto e é um claro inimigo da inovação.

Quando temos que escolher o que lembrar

Só podemos nos dar ao luxo de lembrar os bits de informação que provavelmente serão úteis no futuro. Temos que apostar constantemente e fazer concessões no que temos que lembrar ou esquecer. Destacamos os seguintes tipos de vieses de memória:

Reforçamos as memórias após a ocorrência de um evento relacionado e, nesse processo, alguns detalhes da memória podem mudar sem que tenhamos consciência disso (memória reconstrutiva ou viés da falsa memória). Por exemplo, há pessoas que não estavam presentes no ataque de 11 de setembro e, após um ano, estavam completamente convencidas de que realmente estavam lá. Isso foi demonstrado por pesquisadores do  9/11 Memory Consortium . Sem ir tão longe, é por isso que quando você encontra um amigo que não vê há algum tempo e ambos se lembram de um acontecimento, é possível que suas versões não sejam as mesmas. Mas ninguém está mentindo, pelo menos não conscientemente.

Descartamos dados específicos para generalizar os fatos (viés de estereótipo implícito). Isso ocorre por necessidade, mas o resultado de “juntar tudo no mesmo saco” inclui associação implícita, estereótipos e preconceito. Por exemplo, se pensarmos no desempenho do Brasil na Copa do Mundo de 2014, só nos lembramos do jogo contra a Alemanha, mas o Brasil estava invicto até a fase de semifinais, só que não lembramos disso em um primeiro momento. E quando votamos em um partido político, somos guiados pelo que temos em mente para “direita” e “esquerda”, e não por um programa de ação concreto.

Reduzimos eventos e listas aos seus elementos-chave. Como é difícil reduzi-los a generalidades, selecionamos alguns elementos para representar o geral. Por exemplo, depois de assistir a um filme, a regra de pico nos deixa com um sentimento marcante devido ao momento de maior intensidade emocional e como ele terminou.

Armazenamos as memórias de acordo com o contexto em que foram obtidas, sem levar em conta seu valor. Por exemplo, o efeito Google nos leva a esquecer qualquer informação que pensamos poder obter na internet. Embora a informação seja relevante, nós a esquecemos porque podemos facilmente encontrá-la novamente. É por isso que não memorizamos mais nenhum número de telefone ou as direções para um local específico.


Fonte: bitbrain.com