Reivindicando o espaço das mulheres na liderança
Originalmente publicado em un-women.medium.com
Shirley Chisholm, a primeira congressista negra dos EUA disse uma vez: “Se eles não lhe derem um assento à mesa, traga a sua própria cadeira”.
O futuro é melhor quando mulheres estão presentes em todas as mesas onde as decisões são tomadas. Mulheres pioneiras como Shirley Chisholm vêm reivindicando seu espaço e exigindo inclusão e igualdade das mulheres ao longo da história, e agora chegou a nossa vez.
Em todos os setores, nas comunidades e sociedades, as mulheres as mulheres têm contribuições importantes a fazer para a liderança. Desde política e corporações a esportes, pelas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, a liderança diversificada beneficia a todos. Os líderes precisam representar seus pares para compreender melhor seus desejos e necessidades.
Este ano, no Dia Internacional da Mulher, estamos celebrando a liderança feminina em todas as suas formas e conclamando em todo o mundo a reivindicar seu espaço na liderança e na tomada de decisões.
Negócios e empreendedorismo
Mesmo com um novo recorde de mulheres CEOs de empresas na lista das 500 maiores empresas dos EUA da revista Fortune em 2020, apenas 7,4% dessas organizações são dirigidas por mulheres.
As mulheres são menos propensas a serem empresárias e enfrentam mais desvantagens ao iniciar negócios.
Em seu local de trabalho as mulheres também enfrentam práticas discriminatórias que as impedem de progredir em suas carreiras e reivindicar posições de liderança. Entre essas práticas estão assédio sexual, disparidade salarial de gênero e falta de políticas favoráveis à família.
Seguem abaixo cinco maneiras de mudar a política e a cultura para que mais mulheres possam ocupar cargos de liderança no mundo do trabalho:
- Exigir salário igual para trabalho de igual valor.
- Solicitar políticas de licença parental que apoiem pais de todos os gêneros.
- Implementar políticas de tolerância zero para o assédio sexual e a violência no local de trabalho.
- Dividir igualmente o trabalho doméstico e o de cuidados em casa.
- Buscar representação igual das mulheres nas salas de reuniões.
Esporte
De atletas a executivos, mulheres líderes no esporte inspiram mulheres e meninas de todas as esferas da vida a lutarem pelos seus sonhos.
Elas desafiam estereótipos e tomam atitudes diferentes das que as pessoas esperam de seu gênero, proporcionam espaços seguros e justos para mulheres e meninas, e as ensinam sobre o trabalho em equipe e a perseverança.
Sem a liderança feminina, os Jogos Olímpicos de Tóquio 2021 nunca se tornariam os primeiros Jogos Olímpicos com igualdade de gênero, com participação de atletas femininas em quase 49%.
Apesar do progresso e de muitos recordes quebrados, as mulheres continuam a ser excluídas de certos esportes e recebem muito menos do que os homens em salários e prêmios em dinheiro em todo o mundo.
Abaixo, cinco maneiras de ajudar mulheres a reivindicar posições de liderança no esporte:
- Aumentar a consciência, mudar as percepções: qualquer esporte pode ser um esporte feminino.
- Exigir salários e prêmios em dinheiro iguais para eventos femininos e masculinos.
- Assistir, ler sobre e apoiar atletas e equipes femininas.
- Usar o esporte como uma plataforma para falar pela igualdade e como uma ferramenta para empoderar mulheres e meninas.
- Apontar o sexismo em eventos esportivos e celebrar os sucessos das mulheres atletas.
Ciência e resposta à COVID-19
Para superar a pandemia da COVID-19 e se recuperar da crise global em curso, o mundo precisa da ciência, e a ciência precisa das mulheres.
Na linha de frente, mulheres são profissionais de saúde focadas na inovação, pesquisando vacinas e tratamentos pioneiros, e inspirando meninas a serem dínamos da área de Ciências e Tecnologia.
As mulheres na ciência estão nos conduzindo em direção a um mundo mais seguro, muitas vezes arriscando suas vidas, pois representam aproximadamente 70% dos trabalhadores de saúde e assistência social. No entanto, elas permanecem sub-representadas na tomada de decisões e liderança, pois representam apenas 30% dos líderes no setor de saúde global.
Barreiras sistêmicas, preconceito de gênero, discriminação e estereótipos de gênero continuam a impedir que as mulheres cresçam nas carreiras tecnológicas.
Consequentemente, isso limita a diversidade dos inovadores que estão tentando encontrar soluções para os desafios mais urgentes, das mudanças climáticas à crise da COVID-19.
Para melhores soluções que beneficiem a todos, precisamos de mais mulheres líderes na ciência. Abaixo, cinco maneiras que podem auxiliar nesta empreitada:
- Aumentar a conscientização entre crianças, educadores e pais para rejeitar o preconceito de gênero: carreira científica e tecnológica são carreiras de mulheres.
- Encontrar e incentivar mulheres e meninas nas áreas de Ciência e Tecnologia.
- Prestar atenção na expertise das mulheres cientistas e confiar em suas pesquisas.
- Orientar mulheres e meninas nas áreas de ciência e tecnologia e incentivá-las a sonhar alto.
- Defender a inclusão das mulheres na resposta e recuperação à pandemia COVID-19 em nível nacional e local.
Ação climática e preservação do meio ambiente
As mulheres em todo o mundo são afetadas desproporcionalmente pelas mudanças climáticas.
Os desastres humanitários induzidos pelo clima costumam piorar as desigualdades de gênero existentes, deixando mulheres e meninas sujeitas a taxas mais altas de violência, desnutrição, entre outras mazelas.
Sem mulheres líderes no movimento climático, as soluções e a resposta à emergência climática continuarão a excluir as necessidades das mulheres e a minar seus direitos. Mulheres e meninas têm liderado movimentos ambientais e de ação climática, mas os homens ocupam 67% dos papéis de tomada de decisão relacionados ao clima.
A justiça climática e a sustentabilidade ambiental dependem da liderança de mulheres e jovens. A seguir, algumas maneiras de apoiar a liderança das mulheres na ação climática:
- Apoiar e eleger mulheres líderes que pressionam governos por políticas ambientais.
- Exigir ação governamental para um mundo zero carbono.
- Ouvir e divulgar as vozes de mulheres e meninas no movimento climático.
- Exigir representação igual das mulheres em forças-tarefa de ação climática, equipes, comitês, etc. em nível local e nacional
- Ler e compartilhar histórias de mulheres que estão na linha de frente da ação climática em todo o mundo.
Tomada de decisões, política e vida pública
Apenas 22 países têm mulheres como Chefes de Estado ou de Governo, e 119 países nunca tiveram uma líder mulher.
Apenas 25% dos assentos parlamentares nacionais são ocupados por mulheres, e dados de 133 países indicam que as mulheres representam apenas 36% dos membros eleitos dos órgãos deliberativos locais.
Quando as mulheres estão sub-representadas nas tomadas de decisão públicas, as políticas correm o risco de não atender às suas necessidades e prioridades.
Se não tomarmos medidas decisivas para empoderar e permitir que mais mulheres ocupem espaços na política e na tomada de decisões públicas, não alcançaremos a paridade nos altos níveis de liderança por mais 130 anos. Seguem cinco maneiras de ajudar as mulheres a ocupar o seu espaço na política:
- Apoiar as candidatas
- Divulgar as candidatas dentro da sua comunidade, incentivar o treinamento e capacitação para mulheres que enfrentam formas múltiplas de discriminação (como mulheres negras, indígenas, transexuais, etc) para que possam participar da vida pública e da política.
- Exigir a adoção e a aplicação de cotas de gênero e metas mais ousadas de representação igual.
- Exigir que a violência contra as mulheres na vida política e pública, tanto online como offline, seja criminalizada e prevenida.
- Incentivar os partidos políticos a financiar as campanhas das mulheres candidatas e a promover a sua liderança.
Movimentos civis e espaços cívicos
Movimentos que reivindicam direitos das mulheres são a base para democracias prósperas e um catalisador de mudanças positivas
As mulheres são líderes em todas as formas de engajamento cívico, desde sindicatos e universidades até a mídia e movimentos por justiça social.
Esses movimentos desempenham um papel essencial na responsabilização dos governos, bem como na promoção de mudanças sociais.
Em todo o mundo, o espaço para a discussão e os movimentos civis estão diminuindo. Existem mais leis que restringem a liberdade de se reunir, criando obstáculos para a criação de organizações e movimentos de mulheres, impedindo que eles advoguem em prol das causas femininas, recebam financiamento externo, relatem e monitorem questões de direitos humanos em alguns países.
Mulheres defensoras dos direitos humanos enfrentam campanhas online de difamação, ataques físicos, assédio e intimidação. Desde 2008, a repressão da sociedade civil se intensificou em 26 países, enquanto as condições melhoraram em apenas 17.
Apesar dessas ameaças, as novas gerações de jovens mulheres continuam a trazer energia e estratégias inovadoras para a luta pelos direitos das mulheres. Abaixo, algumas maneiras de ajudar as mulheres a liderar em espaços e movimentos cívicos:
- Usar sua voz e plataformas nas redes sociais e engajamentos pessoais para ampliar a voz das mulheres líderes.
- Financiar organizações de direitos das mulheres.
- Ouvir e replicar as vozes e experiências das mulheres, especialmente aquelas de comunidades minoritárias ou marginalizadas.
- Exigir que as mulheres defensoras dos direitos humanos sejam protegidas da violência.
- Ensinar à próxima geração a importância da igualdade de gênero e apoiar o ativismo de mulheres e meninas.
Mídia e entretenimento
A mídia desempenha um papel essencial na divulgação das vozes e histórias das mulheres e chamando a atenção para questões-chave.
Mas, com as mulheres ocupando apenas 27% dos cargos de alta administração em organizações de mídia, não é surpresa que filmes, livros, jornais, podcasts e outros meios poderosos continuem a ser dominados por histórias, perspectivas e narrativas masculinas, escritas, produzidas e apresentadas por homens.
Uma análise de filmes populares em 11 países descobriu que 31% de todos os personagens com falas eram mulheres e que apenas 23% apresentavam uma protagonista feminina, um número que se aproxima da porcentagem de cineastas mulheres, de 21%.
Quando as mulheres são retratadas, muitas vezes são personagens unidimensionais ou objetos sexuais vistos de uma perspectiva masculina.
Na área do jornalismo, apenas 24% das pessoas ouvidas, lidas ou vistas nos jornais, na televisão e no rádio são mulheres. Na cobertura de notícias globais da COVID-19, apenas uma em cada cinco fontes especializadas consultadas eram mulheres.
Precisamos de mais mulheres liderando as indústrias de mídia e entretenimento para acabar com a sub-representação e os estereótipos retratados pelos meios de comunicação. A seguir, cinco maneiras de ajudar as mulheres a ocupar posições gerenciais na mídia:
- Apontar os estereótipos e sub-representação das mulheres no jornalismo e no entretenimento quando você vir.
- Consumir mídia criada por e sobre mulheres.
- Exigir uma representação igual e diversa na tela e nos bastidores.
- Ler, assistir e ouvir artigos sobre igualdade de gênero e pedir por mais exemplares deles.
- Ser presente em plataformas online para amplificar a voz das mulheres e se posicionar contra a violência e o assédio às criadoras.
Agricultura
Mais de 30% dos trabalhadores no campo são mulheres. Dessa forma, é essencial aumentar o acesso das mulheres à terra e oferecer mais apoio às mulheres agricultoras.
As mulheres garantem a segurança alimentar de suas comunidades e criam resiliência climática. Mas quando se trata de possuir terras, acessar insumos agrícolas, financiamento e tecnologias para resiliência climática, elas são deixadas para trás.
Essas agricultoras, apesar dos desafios adicionais que enfrentam, geralmente são as guardiãs do conhecimento tradicional e as administradoras dos recursos naturais em suas comunidades.
Sua experiência e percepções valiosas podem nos levar a uma melhor compreensão da gestão de recursos escassos e mitigação de riscos climáticos. Abaixo, cinco maneiras de ajudar as mulheres a serem líderes na agricultura:
- Defender o aumento da coleta de dados sobre mulheres camponesas e mulheres na agricultura.
- Exigir controle igual das mulheres sobre a propriedade da terra, inclusive por meio de direitos de herança, em todos os países do mundo.
- Comprar de fazendas locais administradas por mulheres ou de empresas que fomentam a participação feminina.
- Apoiar organizações de mulheres que treinam e empoderam mulheres na agricultura.
- Amplificar as vozes das mulheres do campo quando elas falam sobre igualdade de gênero.
Construção da paz
A liderança das mulheres é a chave para uma paz sustentável e é necessária com urgência à medida que os conflitos e as crises humanitárias se tornam cada vez mais complexos, violentos e longos a cada dia.
Embora as mulheres enfrentem maiores níveis de violência e desigualdade em tempos de guerra e instabilidade, elas estão na linha de frente dos esforços para liderar suas comunidades em direção a soluções pacíficas.
Quando grupos e lideranças femininas estão envolvidos em negociações de paz, a possibilidade de negociação e implementação de acordos de paz aumenta. No entanto, a maioria dos negociadores, mediadores e signatários em processos de paz ainda são homens.
Cinco maneiras de ajudar as mulheres a reivindicar liderança em processos de paz:
- Insistir para que as mulheres tenham assento na mesa de paz como mediadoras, negociadoras, signatárias e testemunhas dos acordos de paz.
- Exigir que representações de todos os gêneros estejam presentes em todo o processo de estabelecimento da paz e que os direitos das mulheres sejam incluídos nas disposições do acordo de paz.
- Acreditar no poder da solidariedade das mulheres e fortalecer as redes e coalizões femininas
- Apoiar e financiar organizações de mulheres que operam na linha de frente da construção da paz local e resposta humanitária.
- Solicitar serviços que respondam e previnam a violência de gênero em ambientes de conflito e pós-conflito e proteger as mulheres construtoras da paz e defensoras dos direitos humanos
Fonte: ONU Mulheres