Férias e a importância do descanso para o cérebro
Janeiro é um mês muito aguardado: sol quente e céu azul, oportunidades e mais oportunidades de lazer, viagens e descanso. Ai, como o mês de férias é maravilhoso! Muito aguardado por crianças e também por trabalhadores, esses 31 dias compreendem uma oportunidade de descanso muito necessária para a motivação e renovação de energias. Para aproveitar as férias, o texto de hoje do nosso blog abordará, de maneira leve e descontraída, como todas as formas de descanso são fundamentais para manter o bom funcionamento do nosso cérebro. Vamos curtir?
O sono e nossas vidas
O período em que passamos dormindo é importante para que possamos repor nossas energias e para que o corpo recupere-se e volte para um estado homeostático que é deturpado ao longo das atividades cotidianas. Uma revisão da literatura científica sobre o sono em diversas fases da vida o destaca como necessário para que nossa cognição funcione bem, sendo importante para memórias, balanço ideal de hormônios e diversos fatores que garantam o bom funcionamento corporal.
Estudos publicados na Nature Cell Biology ainda indicam que uma boa rotina de sono pode ajudar a nos mantermos jovens. Ou seja, o sono da beleza pode ser real! Isso porque grande parte do nosso corpo é constituída de uma matriz de fibrilas, que embora algumas se desenvolvam aos 17 anos para ficar para o resto da vida, outras são quebradas diariamente e reabastecidas durante nosso sono. Por isso dormir pouco pode também influenciar na saúde física e fenotípica do nosso corpo.
Bases do funcionamento cerebral: o ciclo de sono e vigília
O repertório comportamental de cada espécie é único. A etologia, campo do conhecimento que se dedica ao comportamento animal, está em constante desenvolvimento pela observação de padrões comportamentais em diferentes espécies, comunidades e indivíduos. Diferentes atos são performados por cada grupo, seja por conta de seus fatores genéticos que determinam sua morfologia, ou por fatores ambientais que determinam o meio ao seu redor. Entretanto, algo que se preserva em uma grande parcela dos animais, é o sono.
Embora nem todos animais compartilhem as mesmas características do sono como estamos acostumados, como apontado nessa matéria do Museu da Vida da Fiocruz, como por exemplo fechar os olhos ou até mesmo entrar em um estado de inconsciência dos arredores, estados semelhantes são observados para a manutenção do que chamamos de ciclo de sono e vigília. Este é uma repetição periódica promovida pelo corpo alternando estados nos quais estamos atentos às informações do ambiente para poder agir sobre elas, com estados nos quais o corpo promove um descanso para si e para a mente.
A matriz extracelular e o sono
O sono é, portanto, extremamente necessário para manter a homeostase em nosso corpo. Sua importância para a consolidação das memórias, ou seja, para que consigamos reter informações por um longo tempo e com uma boa qualidade, é amplamente estudado. Um fator que vem sendo estudado mais recentemente e suas implicações nesse processo é a matriz extracelular. Enquanto muitos estudos focam nas relações e comunicações celulares, os que abordam esse espaço entre as células têm ganhado destaque, destacado ainda a fronteira final da neurociência, ainda por cima no campo do sono. As proteínas deste espaço se envolvem com essa consolidação durante o sono e ainda também se envolvem com diversos transtornos psiquiátricos, atuando importantemente no envelhecimento. As proteínas deste espaço possuem envolvimento também com a regulação do ciclo sono-vigília, e podem estar alteradas em casos de privação de sono.
Por que o descanso é importante?
O sono, entretanto, é diferente do descanso. Um artigo da revista internacional de terapia ocupacional aponta que descansar pode englobar também o sono, mas na verdade pode ser também uma interrupção nas atividades físicas e mentais que resultam em um estado relaxado. Este pode ser alcançado por meio de atividades simples como a leitura, ouvir música, caminhar, sentar em silêncio.
A importância do descanso é ainda maior durante o nosso desenvolvimento. Estudos conduzidos na Universidade de Zaragoza, na Espanha, apontam que transtornos do sono durante a infância, que implicam em uma série de consequências negativas no aprendizado e capacidade de socialização, podem ser prevenidos por comportamentos que melhoram e aumentam o descanso.
Essas atividades, além de trazerem o tão desejado descanso, trazem consigo também benefícios para a produtividade. Como discutido pelo El País, períodos de descanso, como férias por exemplo, são capazes de aumentar nossa flexibilidade cognitiva e criatividade. Isso ocorreria por uma redução no estresse. Este, por si só, não é necessariamente negativo. Já foi hipotetizado por Yerkes e Dodson, por exemplo, que a performance segue uma curva em formato de sino em relação com o estresse: baixos níveis de excitação não são capazes de causar um bom desempenho, assim como os altos níveis do mesmo (que caracteriza o estresse), mas uma quantidade óptima aumenta a performance.
A ciência da recuperação nos finais de semana
O descanso, por sua vez, precisa ser adequado. Estudos apontam que o teor das atividades conduzidas durante o final de semana também se relaciona com o que é capaz de nos fazer sentir mais descansados. Neste estudo de 2017, por exemplo, observou que trabalhadores em posições criativas se beneficiam mais de períodos de descanso nos quais as atividades menos dependiam disso, e o contrário também foi observado. Outro ainda apontou para as diferenças no esforço empregado, se estavam em linhas parecidas com o que é desenvolvido no seu trabalho e o nível de recuperação por estes apontados.
Memória e o descanso
O descanso, atrelado à sua carga de alívio do estresse, é necessário para que haja uma formação de memórias adequada. Estudos mais recentes ainda indicam que os simples momentos de “estar desocupado” após um novo aprendizado são importantes nessa tarefa, bem como momentos para performar novas tarefas não relacionadas.
Procrastinação: necessariamente uma vilã?
Esse descanso não deve, entretanto, ser confundido com procrastinação. Esta é definida como deixar para depois tarefas que podem afetar sua produtividade. Essa pode ocorrer por diversos fatores, como medo de críticas, medo de falhar, falta de interesse ou até mesmo por perfeccionismo. Entretanto, nem sempre é uma vilã, uma vez que esperar até o último momento pode ser bom para pessoas que possuem melhor desempenho quando estão sob pressão, o que é justamente apontado por esta matéria da Forbes. A procrastinação tem ganhado um espaço tão grande que até mesmo livros estão sendo escritos sobre o seu benefício para o bem-estar e saúde, como é o caso da obra “Procrastination, Health, and Well-Being”, bem como novas escalas estão sendo desenvolvidas para serem aplicadas em estudos sistemáticos.
Esta pode ser uma aliada para o seu processo criativo. Muitos estudiosos do campo da arte, por exemplo, apontam o famoso pintor Leonardo Da Vinci como um grande procrastinador. Ela é capaz, por exemplo, de dar um descanso para o seu cérebro, proporcionando à sua mente um novo jeito para resolver um problema, fornecendo também mais tempo para coletar informações que possam lhe ajudar na tarefa. Além disso, lhe permite dar espaço para que as coisas tomem um percurso natural, simplesmente por dar tempo a si mesmo e à situação, lhe dando mais tempo até mesmo para fazer outras coisas.Sua relevância é tão grande para o estudo do comportamento que até mesmo estudos buscando as relações genéticas da procrastinação foram feitos. Por meio de achados anteriores que correlacionam procrastinação com impulsividade, este estudo demonstrou que ambos os fatores são moderadamente herdáveis, compartilhando um componente genético embora não fenotípico.