Treinamento cerebral? Entenda
Cientistas da Universidade de York, no Canadá, investigaram a relação entre jogar videogame e o desenvolvimento de habilidades motoras e visuais para a realização de tarefas complexas e revelaram uma possível correlação. Outros estudos foram mais longe e apontaram algumas diferenças entre os cérebros de quem joga videogame e dos que não jogam. Os que jogam regularmente apresentam o corpo estriado maior, a parte do cérebro responsável pela automatização de comportamentos (criação de hábitos) e pela relação destes hábitos com o sentimento de recompensa. Essa região é normalmente ativada quando as pessoas antecipam efeitos positivos ou sentimentos de prazer, como quando ganham dinheiro, boa comida ou no sexo. Uma importante pergunta que este estudo ainda não resolveu, entretanto, é se a diferença estrutural no cérebro é uma alteração causada pelos jogos frequentes, ou se essas são diferenças individuais nas pessoas que são naturalmente mais dispostas a jogar.
Acredita-se que programas feitos para treinar o cérebro podem aumentar as habilidades cognitivas dos alunos, utilizando adaptações de tarefas neuropsicológicas comuns. Para confirmar isso, foi aplicado um teste em alunos de 45 escolas de 6 países, e verificou-se que os alunos que participaram do treinamento com um dos programas escolhidos durante um semestre mostraram melhorias significativas em escores de avaliação em relação aos alunos que mantinham uma programação acadêmica padrão. Na verdade, aqueles que investiram mais de 9 horas no treino melhoraram quase o dobro do que aqueles que não jogaram.
Entretanto, uma pesquisa feita a pedido da BBC para confirmar a hipótese de que pessoas que fazem esse tipo de treinamento cerebral podem ficar mais espertas apresentou resultados diferentes. Os pesquisadores analisaram mais de 8.600 pessoas entre 18 e 60 anos que jogaram jogos online criados para melhorar a memória, raciocínio e outras habilidades mentais por pelo menos 10 minutos ao dia, três vezes por semana. Os voluntários foram comparados a 2.700 pessoas que não jogaram jogos cerebrais, mas passaram tempo comparável surfando a web e respondendo a questões de conhecimentos gerais. Todos os participantes foram submetidos a uma espécie de teste de inteligência antes e depois do experimento.
A conclusão? Os pesquisadores afirmam que as pessoas que fizeram o treinamento cerebral não se saíram nem um pouco melhor que as que simplesmente ficaram online. Em certas partes do teste, os surfistas da web se saíram melhor que os treineiros. O estudo foi publicado no website da revista científica Nature. Vale ressaltar que nenhum estudo concluiu que treinamento mental piora as habilidades cognitivas.
As diferenças encontradas nos estudos pode dever-se ao fato de que os resultados positivos foram obtidos em adolescentes que estavam na fase de maior desenvolvimento cognitivo. Para adultos, estes resultados não se confirmaram.
Mas então qual seria uma boa maneira de melhorar as habilidades cognitivas? Manter hábitos saudáveis com o próprio corpo como boa alimentação e exercícios físicos parece ser um bom começo.
Durante o período evolutivo, a espécie humana não se rendeu ao sedentarismo e nem podia. No período Paleolítico nossos antepassados eram nômades já que necessitavam se deslocar por muitos quilômetros em busca de abrigo e comida. Nesta época, o cérebro do gênero Homo evoluiu significativamente. Isso pode significar que a atividade física constante mantinha um condicionamento cardiovascular muito útil para um suprimento sanguíneo cerebral que favoreceu o aumento da complexidade dos processamentos cerebrais.
Neste sentido, Sandra Aamodt, editora- chefe da revista Nature Neuroscience e autora de livros sobre neurociência, afirma: “Tudo que faz bem para o coração, faz bem ao cérebro”. Dos órgãos do corpo, o cérebro é o que mais necessita de suprimento sanguíneo para o seu funcionamento. Os neurônios precisam de suprimento adequado de glicose e oxigênio o tempo todo. Um suprimento sanguíneo adequado pode proporcionar o aprimoramento de conexões e fortalecer a comunicação cerebral.
Exercícios físicos fortalecem o músculo cardíaco e uma alimentação que possa diminuir as chances de doenças cardiovasculares devem contribuir para uma atividade cognitiva de qualidade.