O trabalho está te deixando doente? As angústias do trabalho podem aumentar riscos de problemas de saúde
Em um estudo realizado com médicos no Reino Unido e publicado no British Medical Journal Open, foi constatado que eles estão tendo muitos problemas de saúde: 44% dos médicos ingerem álcool, sendo que 5% deles se encaixam nos critérios de dependência de álcool; 8% tem compulsão alimentar; 20% a 61% tem algum tipo de desordem do sono, sendo que 12% deles sofrem de insônia severa; 69% sofrem de fadiga; e 19% a 29% tem outros problemas de saúde.
Descobrimos que médicos com sinais de estresse ocupacional correm mais risco de terem esses problemas. Por exemplo, 55% dos médicos tem burnout, e esse grupo tem o dobro de possibilidade de sofrer de insônia e compulsão alimentar.
As pessoas têm o costume de expressar as frustrações no trabalho dizendo que estão estressadas, mas esse estresse ligado ao trabalho pode prejudicar a sua saúde. Essa pesquisa com os médicos do Reino Unido mostra que o que as pessoas chamam de “estresse do trabalho” poderia ser definido como um síndrome que consiste em muitos sintomas, incluindo burnout, desequilíbrio entre vida pessoal e trabalho, tensão e outros. Os pesquisadores acreditam que a pesquisa sobre médicos pode ter reflexos na população geral.
Burnout é estar emocionalmente exausto do trabalho, ser pessimista ou indiferente e tratar mal colegas e clientes. Um desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal significa ficar mais tempo do que deve no trabalho, deixando pouco tempo para o resto, como fazer atividades físicas, ter hobbies ou ficar com a família. Tensão no trabalho consiste em um desequilíbrio onde o custo psicológico do trabalho excede a recompensa que você recebe por ele. Por isso existe o termo “estresse ocupacional”, que é a síndrome que leva a possíveis sintomas de angústia e prejuízo psicológico causado pelo trabalho.
O que qualquer profissional pode aprender com essa pesquisa?
1. Estresse ocupacional prejudica a saúde do corpo
Se você sofre muito de incômodos que não são explicados clinicamente, como azia, dores de cabeça e no estômago, tensão ocular e cansaço, eles podem ser causados por estresse no trabalho. Consulte seu médico e conte que você está passando por estresse no trabalho e burnout. Ele é o único profissional que pode dizer se esses fatores estão ou não contribuindo para os seus problemas de saúde. Se estiverem, ele o encaminhará para profissional apropriado, que pode ser um terapeuta ou psicólogo.
A ideia de que o estresse ocupacional aumenta os riscos de problemas de saúde faz sentido porque a pesquisa sugere que o estresse afeta a saúde porque enfraquece o sistema imunológico, deixando as pessoas mais suscetíveis à infecções.
2. Estresse ocupacional aumenta o risco do uso de álcool, drogas e compulsão alimentar.
Isso inclui consumo prejudicial ou frequente de álcool, cigarro e drogas ilícitas como um jeito de lidar com o estresse. A pesquisa endossa outros estudos nesse campo, mostrando que o estresse aumenta o risco de comer descontroladamente. A conclusão é que se você estiver bebendo ou comendo demais e tomando remédios frequentemente, isso pode ser um sinal de que os problemas do trabalho estão te influenciando negativamente.
3. Estresse ocupacional prejudica o sono
E pode aumentar o risco de insônia, reduzir a qualidade do seu sono, deixá-lo mais propenso a ter dificuldades para dormir e permanecer dormindo ou ainda se preocupar com o trabalho enquanto tenta pegar no sono. Diversos estudos revelam que distúrbios do sono têm consequências a longo prazo na sua saúde, como redução da imunidade, aumento do risco de problemas no coração e aumento do risco de suicídio.
Se você está passando por problemas no trabalho e tem distúrbios de sono, consulte o seu profissional de saúde para que ele o ajude. Embora soluções de curto prazo como remédio para dormir possam ser úteis, sugerimos que a solução do problema a longo prazo deve contemplar as razões que estão por trás dos problemas no trabalho.
4. Os diferentes sinais e gatilhos do estresse ocupacional
É importante descobrir o que dispara o seu estresse e os impactos disso na sua saúde. Você está com burnout? O que causou isso? Por exemplo, trabalhar para um chefe que grita com você ou atender clientes grosseiros podem te forçar a assumir uma postura forte e fingir que está tudo bem. No entanto, isso causa uma coisa chamada labor emocional, que é o esforço que você faz para suprimir as suas reais emoções e isso também pode contribuir para o burnout.
Você está trabalhando em um emprego que coloca muitas demandas sobre você? Ou está fazendo um trabalho que não é recompensador? A incompatibilidade entre demandas de trabalho tais como prazos justos e falta de autonomia podem causar tensão e levar ao burnout. Colocar muito esforço no seu trabalho sem ter o pagamento correspondente, feedback positivo ou reconhecimento também podem se tornar um problema.
5. Evite a culpa e desabafe com outras pessoas
A pesquisa sugere que a culpa é um fator de risco para problemas de sono, uso de substâncias nocivas e compulsão alimentar. É melhor desabafar sobre as suas frustrações com um colega de confiança, cônjuge, amigo, médico ou terapeuta. Esteja aberto às dificuldades. Entre em um fórum online de pessoas da sua área profissional, onde pode pedir conselhos e ouvir problemas de outros no conforto do anonimato.
Não guarde para si problemas que os seus superiores podem resolver, como bullying, carga de trabalho desproporcional ou salário baixo (tente uma promoção assim que houver uma oportunidade). Não ignore sintomas e não tente resolver tudo sozinho. Rapidamente, você entenderá que o estresse ocupacional é muito comum, e perceber isso te ajudará a superá-lo. Durante o estudo, médicos foram encorajados à enxergarem o estresse ocupacional como uma reação normal a situações desafiadoras. Só essa percepção já ajudou a diminuir os níveis de Burnout e ansiedade.
Se você está tendo problemas de trabalho e não está ao seu alcance resolvê-los, não se culpe. Se está tendo sintomas inexplicáveis, fale com seu profissional de saúde. Seja mais compreensivo consigo mesmo e aja para proteger a sua saúde.
Fonte: Psychology Today
Referências:
Medisauskaite, A., & Kamau, C. (2019a). Does occupational distress raise the risk of alcohol use, binge-eating, ill health and sleep problems among medical doctors? A UK cross-sectional study. British Medical Journal Open, 9(5), e027362. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2018-027362
Kamau, C. (2019). Five ways media training helped me to boost the impact of my research. Nature, 567, 425-426. https://doi.org/10.1038/d41586-019-00883-7
Cohen, S., & Williamson, G. M. (1991). Stress and infectious disease in humans. Psychological Bulletin, 109(1), 5–24. https://doi.org/10.1037//0033-2909.109.1.5 More