O que é embodiment?
Você sabia que a expressão facial de felicidade ou neutra tem implicações no estado emocional? Em um estudo experimental, Strack, Martin e Stepper (1988) pediram para que os participantes lessem uma história em quadrinhos engraçada enquanto sustentavam com os dentes um lápis com a boca em uma expressão neutra. Para outros participantes, pediram que sustentassem um lápis com os dentes em uma expressão sorrindo. Os pesquisadores observaram que os participantes que sustentaram o lápis em uma expressão sorrindo, avaliaram as histórias em quadrinhos mais divertidas comparadas com os participantes que sustentaram o lápis com a boca em uma expressão neutra. Nesse estudo, os pesquisadores demonstraram que a ativação fisiológica de certos músculos faciais pode ter influencias na avaliação emocional de certas tarefas.
E você sabia também, que o tipo de postura corporal afeta o estado de ânimo da pessoa? Em uma pesquisa experimental cientistas pediram a um grupo de participantes que durante uma tarefa neutra mantivessem em uma postura encurvada, e para outro grupo de participantes pediram que mantivessem em uma postura erguida. Os pesquisadores observaram que o grupo que mantiveram postura encurvada demonstraram estado de ânimo mais baixo e foram mais propensos a abandonar a tarefa. No outro grupo de participantes que mantiveram em uma postura erguida, demonstraram um estado de ânimo mais positivo e mais propensos a não abandonar a tarefa (Riskind & Gotay 1982).
Seguindo essa mesma linha de estudos sobre postura corporal, Carney, Cuddy e Yap (2010) pediram aos participantes que ficassem em uma postura corporal de poder (postura expansiva), a um outro grupo de participantes não pediram mudanças nas posturas. Depois disso, eles observaram que os participantes que ficaram em uma postura corporal de poder mostraram maiores níveis de testosterona (hormônio masculino) y menores níveis de cortisol (hormônio do estresse). Em seguida outro estudo do mesmo grupo de pesquisadores, Cuddy et al., (2012) pediram para que seus participantes ficassem em uma postura corporal de poder (postura expansiva) durante sete minutos e em seguida que participassem de uma entrevista de emprego. Igualmente para outro grupo pediram para que ficassem em uma postura neutra e participassem de uma entrevista de emprego. Eles observaram que os participantes que ficaram em uma postura corporal de poder durante sete minutos, apresentaram melhores níveis de desempenho durante a entrevista de emprego.
Portanto, para exemplificar “embodiment” consiste em uma nomenclatura inventada por Valera, Thompson e Rosch (1991), e tem sido prioritariamente utilizada pela ciência para estudar o papel do corpo nas funções mentais superiores. Não somente pela psicologia e ciência cognitiva (Barsalou, 1999; 2008), mas também em outros âmbitos da ciência como o da robótica (Brooks, 1991) e também na neurociência (Damasio, 1994). No entanto, ainda não há um consenso em relação à adaptação dessa terminologia à língua portuguesa. O significado da palavra “embodiment” em trabalhos brasileiros, ora usa-se a terminologia “corporeidade” ora usa-se “encarnação do corpo” (Alves & Rabelo, 1998). De maneira geral, são nomenclaturas que falam de uma consciência encarnada, de uma compreensão incorporada.
Ao analisarmos o conhecimento conceitual sobre as emoções, podemos observar que os estados emocionais estão acompanhados de um vasto leque de experiências corporais, como reações fisiológicas, expressões faciais, reações motoras e posturas corporais (Cuddy et al., 2012). A teoria do “Embodiment Cognition” por exemplo, afirma que o nosso conhecimento se forma por meio da interação de estados sensoriais e estados motores que ocorrem juntos com as experiências que vivemos e as emoções que sentimos diariamente (Barsalou, Niedenthal, Barbey & Ruppert, 2003). Dessa forma, os estados perceptivos e corporais são armazenados em áreas sensório-motoras do cérebro podendo ser resgatados posteriormente. Sendo assim, estados corporais são constituintes da cognição e por tanto, os estados corporais podem desencadear estados cognitivos e vice-versa (Barsalou, 1999).
Para William James (1842) a teoria da emoção implicava diretamente ao corpo. Curiosamente, James sugeriu que a emoção é uma consequência da percepção das respostas fisiológicas, por tanto, a consciência de uma emoção se produz depois da produção das reações fisiológicas. Conforme suas palavras, “não sorrimos porque estamos contentes, e sim estamos contentes porque sorrimos”, ou então, “ não trememos porque temos medo, e sim, temos medo porque trememos”.
Bibliografia
Alves, P. C., & Rabelo, M. C. (1998). Sobre representaçoes e praticas. Antropologia da saúde: traçando identidade e explorando fronteiras, 107.
Barsalou, L. W. (1999). Perceptions of perceptual symbols. Behavioral and brain sciences, 22(04), 637-660.
Barsalou, L. W., Niedenthal, P. M., Barbey, A. K., & Ruppert, J. A. (2003). Social embodiment. Psychology of learning and motivation, 43, 43-92.
Brooks, R. A. (1991). Intelligence without representation. Artificial intelligence,47(1), 139-159.
Carney, D. R., Cuddy, A. J., & Yap, A. J. (2010). Power posing brief nonverbal displays affect neuroendocrine levels and risk tolerance. Psychological Science, 21(10), 1363-1368.
Cuddy, A. J., Wilmuth, C. A., & Carney, D. R. (2012). The benefit of power posing before a high-stakes social evaluation.
Damasio, A. R. (1994). Descartes’ error: Emotion, rationality and the human brain.
James, W. (1968). The self. The self in social interaction, 1, 41-49.
Riskind, J. H., & Gotay, C. C. (1982). Physical posture: Could it have regulatory or feedback effects on motivation and emotion?. Motivation and Emotion, 6(3), 273-298.
Strack, F., Martin, L. L., & Stepper, S. (1988). Inhibiting and facilitating conditions of the human smile: a nonobtrusive test of the facial feedback hypothesis. Journal of personality and social psychology, 54(5), 768.
Valera, F. J., Thompson, E., & Rosch, E. (1991). The embodied mind. Cognitive Science and Human Experience.
Autor:
PhD Student: Priscila Palomo
Dpto. Personalidad,
Evaluación y Tratamientos
Facultad de Psicología
Universidad de Valencia
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