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Neurociência no mercado de trabalho

No mundo acelerado e complexo de hoje, as organizações estão cada vez mais interessadas em otimizar o desempenho e a produtividade de seus colaboradores. Nesse sentido, a neurociência tem emergido como uma ferramenta promissora, oferecendo insights valiosos sobre o funcionamento do cérebro humano e como ele pode influenciar o ambiente de trabalho. Compreender os princípios básicos da neurociência pode ajudar as empresas a criar estratégias mais eficazes de liderança, melhorar a comunicação e a colaboração entre as equipes, promover a saúde mental e bem-estar dos funcionários, além de impulsionar a criatividade e a inovação. Ao aplicar estes conhecimentos no ambiente de trabalho, as organizações podem buscar um ambiente mais saudável, produtivo e satisfatório para seus colaboradores. Vamos ver um pouco mais sobre como essa integração pode contribuir para os seus negócios!

Aumento da produtividade no trabalho

A produtividade é um fator essencial para o sucesso de qualquer negócio. Companhias que desejam aumentar o desempenho de suas equipes precisam entender como o ser humano se comporta para tal. A aplicação de técnicas baseadas em neurociência pode ajudar a melhorar a eficiência por meio do gerenciamento do tempo. É possível a criação de metas realistas e aumento da motivação, evitando sobrecarga de trabalho e o estresse excessivo.

Leia nosso texto “Motivação dos colaboradores: uma manutenção de benefício duplo“.

A neurociência mostra que o cérebro humano tem uma capacidade limitada para se concentrar em uma determinada tarefa. Ela é modulado por fatores tanto endógenos, de volição pessoal, quanto exógenos, que dependem do ambiente. Assim, adotar estratégias que aumentem a motivação e regulem fatores distratores, num balanço que garanta o bem-estar dos funcionários, são interessantes para a manutenção da produtividade.

Uma técnica que tem crescido bastante em aplicação para diversos contextos é a prática da meditação mindfulness. Ela pode ajudar a melhorar a capacidade de concentração e a diminuir o estresse, podendo levar a melhorias significativas na produtividade e na eficiência. O capítulo “Mindfulness as a Potential Tool for Productivity”, de Marieke van Vugt (2019), revisa como pesquisas já apontaram que esta técnica melhora a performance de diferentes tipos de memória, compaixão e atenção, influenciando na distribuição de recursos cerebrais para diferentes informações, efeitos fundamentais para o processo de produtividade [1; 1A-1E].

Melhora na comunicação interna e externa

A comunicação eficaz é fundamental para o sucesso de qualquer empresa. Entender como o cérebro humano processa a comunicação verbal e não verbal pode ajudar os líderes a adaptar sua forma de se comunicar para serem mais claros, concisos e eficazes. Além disso, o entendimento de como as emoções afetam nosso corpo, e por conseguinte, nossa comunicação, nos ajuda a lidar com conflitos interpessoais. Isso promove uma troca de informações mais fluida e eficiente e um fortalecimento das relações interpessoais, que pode ainda ser fomentado através de técnicas de feedback, comunicação não violenta e resolução de conflitos. 

A melhoria na comunicação gera um grande ganho de confiança no ambiente de trabalho. Em relação a trabalhadores que não sentem essa confiança no ambiente de trabalho, os que sentem relatam 106% a energia a mais, 50% maior produtividade, 76% mais engajamento, 29% mais satisfação com a vida, e 74% menos estresse e 40% menos burnout, segundo o artigo “The Neuroscience of Trust”, da Harvard Business Review. [2]

Essa melhoria também pode se estender às interações com clientes e parceiros de negócios. Com uma compreensão mais profunda de como o cérebro humano processa informações, as empresas podem adaptar sua comunicação para atender melhor às necessidades e expectativas de seus clientes e parceiros, melhorando assim seus relacionamentos e resultados comerciais. 

Tudo isso auxilia, por exemplo, na gestão de mudanças, um processo fundamental para que as empresas possam sempre se manter atuais quanto às necessidades de seus colaboradores. Afinal, nós humanos nos adaptamos de acordo com as mudanças tecnológicas que surgem. Ao compreender como nosso sistema nervoso reage frente a mudanças, incentivando o fortalecimento de novos hábitos, os períodos de transição e adequação podem se tornar menos assustadores, ajudando a reduzir a resistência dos funcionários. 

Promoção da criatividade

A criatividade é uma habilidade altamente valorizada em muitos setores de negócios, mas pode ser difícil de alcançar e manter. Compreender como o cérebro humano processa informações, e como ele pode ser estimulado a criar novas conexões que permitam maior flexibilidade, pode ser extremamente útil para as empresas que desejam promover um ambiente criativo e inovador. 

O incentivo de práticas de mindfulness e meditação, técnicas de brainstorming e dinâmicas de grupo são alguns dos tópicos já estudados por pesquisadores e que mostraram bons benefícios na estimulação de processos inovativos. Além disso, essas práticas podem ajudar a criar um ambiente mais colaborativo e acolhedor, onde as ideias podem fluir mais livremente e a criatividade pode florescer. Estes ambientes, por meio da colaboração que promovem, estimulam a exposição a ideias de outras pessoas, o que por si só já foi demonstrado, por meio de estudos de ressonância magnética funcional, como uma forma de aumentar a criatividade[3].

Diversidade, equidade e inclusão

A diversidade e inclusão são temas que têm ganhado espaço nos últimos anos em todas as áreas, desde a educação até ao mundo corporativo. Isso ocorre porque cada vez mais tem se mostrado os benefícios dessas práticas. E a neurociência tem muito a contribuir com este debate. Ao entender como o cérebro humano processa informações relacionadas a essas causas, destacando nossas singularidades e que existe uma neurodiversidade, os líderes podem desenvolver estratégias para criar um ambiente mais inclusivo e diversificado. Estratégias tais como o estabelecimento de metas para tal, treinamentos profissionais, liderança inclusiva e tecnologias de suporte [4].

Um dos exemplos mais fortes que temos disso é como o nosso cérebro, por ser um órgão de alto gasto energético, sempre busca atalhos que nos permitam agir de forma simplificada, estabelecendo assim vieses e heurísticas que promovam isso. Estes podem, por vezes, se estabelecer como preconceitos inconscientes que possam existir na equipe, o que devemos trabalhar ativamente para superar. 

Leia nossos textos O que é heurística” e “O que é viés cognitivo.

Além disso, os estudos sobre o cérebro e comportamento podem ajudar a entender como diferentes pessoas processam informações de maneiras distintas. Assim, é possível desenvolver abordagens mais adequadas para a inclusão de indivíduos neurodiversos. Diferentes pessoas apresentam formas distintas de lidar com algumas situações, seja por repertórios cognitivos, personalidades ou emoções variadas.

Todos esses processos auxiliam na promoção de novas ideias e na tomada de decisões mais abrangente e justa. Isso porque aumenta os diferentes inputs e perspectivas sobre uma determinada temática. De fato, um professor da Universidade de Illinois, em Chicago, conduziu uma pesquisa que mostrou como a diversidade no local de trabalho está associada com maior receita de vendas, mais clientes, maior participação no mercado e maiores lucros [5].

Melhora na tomada de decisão

Talvez uma das ligações mais fortes que a neurociência apresenta com o mercado de trabalho seja através do entendimento de como se dá o processo de tomada de decisão, extremamente relevante no mundo dos negócios. Por exemplo, é possível entender como a emoção interfere nestes processos e como evitar vieses que podem prejudicar a escolha mais racional e adequada.

Podemos então entender tanto as nossas reações emocionais quanto a formação de vieses como maneiras do nosso encéfalo de promover ações mais rápidas e que não aloquem grandes recursos atencionais para tal. As emoções evoluíram como uma maneira de promover reações fisiológicas estereotipadas de alto valor biológico para determinadas situações. Os vieses surgem pela mesma lógica, mas para o processamento cerebral. Assim, ambos influenciam nossos comportamentos, e podemos trabalhar mecanismos de gestão dos mesmos, através do exercício da análise, reflexão e estabelecimento de hábitos a partir da repetição.

Leia nosso texto “6 passos para facilitar a tomada de decisão

Dessa maneira, as empresas podem se usar dos conhecimentos da neurociência para entender como tais mecanismos ocorrem e até qual ponto são passíveis de serem alterados, para assim promover estratégias que melhorem a tomada de decisão. Um exemplo disso é como é apresentada uma correlação como a comunicação e inovação, já abordadas aqui, se relacionam com a performance do time quanto a tomada de decisão, segundo o artigo do European Journal of Training and Development [6].

Melhoria do clima organizacional

Podemos ainda pensar em como é possível a aplicação na identificação das causas de estresse e ansiedade no ambiente de trabalho, o que permite o desenvolvimento de ações para mitigar esses problemas. Além disso, ajuda a elucidar como fatores externos, a exemplo de iluminação e ruídos, afetam o desempenho cognitivo e o bem-estar da mente e do corpo. De fato, estes três fatores (clima organizacional, estresse ocupacional, e bem-estar) se relacionam pela melhora do ambiente psicossocial no trabalho [7].

Outra forma como a neurociência pode ajudar na melhoria do clima organizacional é na compreensão de como o cérebro humano processa a comunicação e a empatia. Podemos então aplicar no desenvolvimento de programas de treinamento e capacitação para colaboradores e líderes, permitindo um ambiente de trabalho mais colaborativo e harmônico. Por fim, podemos pensar na resolução de conflitos no ambiente de trabalho. Aqui, é possível fornecer técnicas para o desenvolvimento da inteligência emocional e da habilidade de lidar com situações de tensão e conflito.

Desenvolvimento de liderança

O desenvolvimento de liderança é um tema essencial no ambiente corporativo, pois líderes eficazes são fundamentais para o sucesso das empresas. Como vimos, por meio de estudos científicos somos capazes de compreender como as emoções afetam o comportamento humano e como a liderança pode impactar as emoções de seus funcionários. Com isso, os líderes podem aprender a gerenciar melhor suas próprias emoções e as dos membros da equipe, criando um ambiente mais saudável e produtivo.

Leia nosso texto “11 dicas da neurociência para melhorar a gestão“.

Além disso, através do neurodesenvolvimento e dos processos de aprendizagem, os líderes podem oferecer oportunidades de desenvolvimento profissional, como treinamentos e mentorias para que os funcionários possam expandir seus conhecimentos e habilidades.

Tudo isso reflete na correspondência entre os valores da empresa e dos funcionários, o que pode contribuir, por exemplo, para a redução das taxas de turnover, atendendo às necessidades individuais dos funcionários e que lhes garantam boa qualidade de vida e progresso profissional. Ainda, auxilia na identificação dos fatores que contribuem para este fenômeno, dentre eles alguns que destacamos aqui como a falta de engajamento, comunicação inadequada ou falta de suporte emocional, permitindo que os líderes adotem medidas preventivas para evitar a perda de talentos. O treinamento de liderança adequado já foi mostrado como um fator que diminui as taxas de turnover dentro de uma empresa [8].

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Referências

Referência Global – Dos Santos, M. A. (Ed.). (2017). Applying neuroscience to business practice. Business Science Reference/IGI Global. https://doi.org/10.4018/978-1-5225-1028-4
Referência Global – Ghadiri, A., Habermacher, A., Peters, T. (2012). Neuroscience for Business. In: Neuroleadership. Management for Professionals. Springer, Berlin, Heidelberg. https://doi.org/10.1007/978-3-642-30165-0_2

1 – Vugt, M.v. (2019). Mindfulness as a Potential Tool for Productivity. In: Sadowski, C., Zimmermann, T. (eds) Rethinking Productivity in Software Engineering. Apress, Berkeley, CA. https://doi.org/10.1007/978-1-4842-4221-6_25

1A – Brown, Kirk Warren, Robert J Goodman, Richard M Ryan, and Bhikkhu Analayo. 2016. “Mindfulness Enhances Episodic Memory Performance: Evidence from a Multimethod Investigation.” PLoS ONE 11 (4). Public Library of Science:e0153309.
1B – Condon, P., G. Desbordes, W. B. Miller, and D. DeSteno. 2013. “Meditation Increases Compassionate Responses to Suffering.” Psychological Science 24 (10):2125–7. https://doi.org/10.1177/0956797613485603.
1C – MacLean, K. A., E. Ferrer, S. R. Aichele, D. A. Bridwell, A. P. Zanesco, T. L. Jacobs, B. G. King, et al. 2010. “Intensive Meditation Training Improves Perceptual Discrimination and Sustained Attention.” Psychological Science 21 (6):829–39.
1D – Slagter, H. A., A. Lutz, L. L. Greischar, A. D. Francis, S. Nieuwenhuis, J. M. Davis, and R. J. Davidson. 2007. “Mental Training Affects Distribution of Limited Brain Resources.” PLoS Biology 5 (6):e138.
1E – van Vugt, M. K., and A. P. Jha. 2011. “Investigating the Impact of Mindfulness Meditation Training on Working Memory: A Mathematical Modeling Approach.” Cognitive, Affective, & Behavioral Neuroscience 11 (3):344–53.

2 – Zak, Paul. “The Neuroscience of Trust.” Harvard Business Review, 2017, hbr.org/2017/01/the-neuroscience-of-trust
3 – Fink, A., Grabner, R. H., Gebauer, D., Reishofer, G., Koschutnig, K., & Ebner, F. (2010). Enhancing creativity by means of cognitive stimulation: evidence from an fMRI study. NeuroImage, 52(4), 1687–1695. https://doi.org/10.1016/j.neuroimage.2010.05.072
4 – Kiradoo, Giriraj – Diversity, Equity, and Inclusion in the Workplace: Strategies for Achieving and Sustaining a Diverse Workforce (December 20, 2022). Advance Research in Social Science and Management, Edition 01 (2022), pp. 139-151, Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=4392136
5 – Herring, C. (2009). Does Diversity Pay?: Race, Gender, and the Business Case for                Diversity. American Sociological Review, 74(2), 208–224. https://doi.org/10.1177/000312240907400203
6 – Ceschi, A., Dorofeeva, K. and Sartori, R. (2014), “Studying teamwork and team climate by using a business simulation: How communication and innovation can improve group learning and decision-making performance”, European Journal of Training and Development, Vol. 38 No. 3, pp. 211-230. https://doi.org/10.1108/EJTD-01-2013-0004
[7] Arnetz, B. B., Lucas, T., & Arnetz, J. E. (2011). Organizational Climate, Occupational Stress, and Employee Mental Health: Mediating Effects of Organizational Efficiency. Journal of Occupational and Environmental Medicine, 53(1), 34–42. http://www.jstor.org/stable/45009654
[8] Sun, Rusi, and Weijie Wang. “Transformational Leadership, Employee Turnover Intention, and Actual Voluntary Turnover in Public Organizations.” Public Management Review, vol. 19, no. 8, 21 Nov. 2016, pp. 1124–1141, https://doi.org/10.1080/14719037.2016.1257063.