Há algumas semanas, exploramos um pouco mais a fundo o que é a neurociência e qual sua importância para a humanidade. Hoje, vamos entender como este campo tão amplo pode ser empregado em diversas áreas do conhecimento, garantindo assim otimização dos processos e melhorias que somente uma ciência completa pode proporcionar. A neurociência aplicada é diversa, e temos certeza que irão se surpreender com algumas delas.

O que é a neurociência aplicada?

É através da aplicação dos conhecimentos gerados pelas pesquisas nas ciências do cérebro, da mente e do comportamento, que podemos de fato unificar a neurociência. Parece confuso, falar em unificação através da diversidade, mas vamos pensar: existe uma interação entre diversas áreas dentro da neurociência, pois existem diversas formas de estudá-la; é pela aplicação dos saberes do campo que conseguimos encontrar uma unidade que classifique essas ciências como uma única e singular.

Mas o que significa de fato aplicar a neurociência?

Diariamente, nas pesquisas científicas relacionadas ao cérebro, milhares de novas descobertas são feitas. A quantidade de novas informações gerada é imensa, e o conhecimento resultante é imensurável. Todo este conhecimento, apenas na academia, não sairia do papel. E a função das ciências aplicadas é translacionar para problemas reais tais saberes, fornecendo assim alternativas que sanem essas dificuldades. 

A ciência aplicada continua sendo ciência, mas voltada mais para a solução de empecilhos do que para o entendimento da matéria em si. Ela se beneficia de todo o conhecimento gerado pela pesquisa básica e faz uma aplicação direta ao problema. Por isso esta ganha grande visibilidade, mas não podemos deixar de ressaltar a importância da pesquisa básica que gerou todo o embasamento para fundamentar tais aplicações.

Por que ela é importante?

Elaborar uma resposta para essa pergunta agora que você já sabe o que é a neurociência aplicada fica, portanto, mais fácil. Assim como toda ciência, a neurociência busca o entendimento de algo, neste caso o cérebro, e promove metodologias empíricas para testar as suposições de mundo.

Dentro das organizações há um crescente interesse no uso da neurociência como ferramenta para compreender e estimular o comportamento humano, e o pragmatismo intrínseco à ciência gera nesses locais um ambiente no qual a neurociência aplicada pode ser instaurada.

Devido ao cenário brasileiro ainda em fase de crescimento inicial no âmbito neurocientífico, a demanda por profissionais da área ainda é restrita, gerando um modelo organizacional não inclusivo no qual existem inúmeras possibilidades de atuação, mas de alta especificidade. Por consequência, se gera um crescente interesse pela neurociência aplicada em diversas áreas.

Estado atual e perspectivas futuras

Assim como a neurociência, em geral, sua aplicação no mercado tende a crescer, mas de forma ainda mais acelerada. O crescimento da neurociência ainda é muito lentificado pela burocratização dos processos em cima da ciência, e pelo próprio tempo que o método científico requer. Já a aplicação direta dos conhecimentos tende a reduzir ambas características.

No Brasil emergem empresas que trabalham com a neurociência de forma direta. Levantamentos por organizações pautadas ou relacionadas com a área mostram cada vez mais empreendimentos baseados nela que não existiam há pouco tempo. Essa incidência revela um constante progresso na aplicação dos conhecimentos. Refletido em um crescimento exponencial, espera-se que nos próximos anos os setores comerciais passem a ter uma prevalência de empresas do ramo, com aplicações sendo usadas dentro da maioria para a otimização de processos.

Áreas de aplicação

É possível, então, imaginar diversos campos que possam se beneficiar da neurociência. Virtualmente, todos são passíveis de receber contribuições significantes, uma vez que a neurociência é diversa, mas alguns campos prosperam ainda mais com investimento direto da aplicação. Vamos a alguns exemplos, separados por algumas ênfases. Vale ressaltar, entretanto, que a neurociência é essencialmente interdisciplinar, e que as divisões aqui feitas são apenas de caráter didático.

Medicina

A medicina pode ser considerada como um dos pilares da neurociência, pois é uma das principais contribuintes para o campo. Ela a acompanha desde os primeiros experimentos que podem ser presumidos como pertencentes à área.

Pesquisa clínica

A primeira forma que podemos pensar de aplicação na medicina é a própria pesquisa clínica, avaliando eficácia e segurança de novas tecnologias, fármacos, tratamentos e intervenções. A neurociência contribui pela avaliação destes produtos sobre o sistema nervoso, podendo variar os níveis de análise. Do molecular (avaliando neurotransmissores, moduladores, produtos do metabolismo e até mesmo partículas menores ainda como íons), ao celular (analisando mudanças morfológicas, interações celulares, estruturas como membrana e receptores). E finalmente ao sistêmico (interações dentro do próprio sistema nervoso, avaliando a conectividade funcional e a plasticidade, mas também interações com os demais sistemas corporais). 

Atendimento clínico

Dessa maneira, a neurociência pode ser aplicada até mesmo durante o atendimento clínico, para uma anamnese mais completa e encaminhamento de fato dirigido e de forma integrada, possibilitando diagnósticos diferenciais, além de que pode ser usada também para entendimento do comportamento e acolhimento do perfil do paciente.

Validação de protocolos científicos

Além disso, é possível contribuir com a validação de protocolos científicos para serem aplicados em novas pesquisas, passando pela avaliação de viabilidade, construção de hipótese, adequação de metodologia, conhecimento estatístico, e condução científica, uma vez que o profissional neurocientista possui profundo conhecimento da metodologia empírica.

Biotecnologia

O desenvolvimento de novas tecnologias a favor da humanidade são impulsionados pela neurociência. No campo da biotecnologia, o estudo das interações moleculares e celulares que provêm da neurociência podem auxiliar no desenvolvimento de novos medicamentos, bem como servir de análise de modelagem. Novas pesquisas nascem, por exemplo, diretamente no impacto de soluções bio físico químicas nos tecidos nervosos.

Neurologia e psiquiatria

Profilaxias, diagnósticos, tratamentos, intervenções, acompanhamentos e reabilitações são alvo de aplicação dos conhecimentos gerados na pesquisa neurocientífica. Doenças e transtornos, tanto neurológicos quanto psiquiátricos, buscam embasamento na ciência do sistema nervoso para encontrar soluções cada vez melhores e eficazes. Essas podem se encontrar em uma abordagem integrada com a clínica terapêutica, mas sem dúvida o embasamento médico e biológico é de substancial centralidade. Afinal, todos estes tópicos envolvem substratos neurais biológicos, sejam eles de qualquer nível de análise.

Funcionamento motor

Levando em consideração que a função evolutiva do nosso sistema nervoso é garantir uma interação com o ambiente ao nosso redor, e que essa é realizada através de nossas ações e reações, que dependem do nosso funcionamento motor, as aplicações do campo podem (e devem) se direcionar para o nosso movimento. Entender como nosso sistema nervoso comando nossos movimentos é chave para buscar alternativas para doenças que acometem essa característica tão fundamental a nós, possibilitando auxílios na reabilitação motora por meio do aprimoramento de novas tecnologias.

Além disso, o funcionamento motor se liga especialmente com nosso estabelecimento de comportamentos através da psicomotricidade, então aplicar conhecimentos na maneira como nos movemos é também uma forma capaz de modular nossa mente.Para o mundo dos esportes, por exemplo, o uso da neurociência aplicada está diretamente envolvido com a performance de um atleta, afinal, a interação do nosso sistema nervoso com a acurácia, precisão e destreza que nossos músculos promovem pode ser modulada por equipamentos de estimulação ou até mesmo fármacos (o famoso doping).