Ação e procrastinação. Você também procrastina?
“Amanhã eu começo!”: a diferença entre ação e procrastinação
Por que procrastinamos tanto? Por que empurramos uma tarefa com a barriga até o limite? A Neurociência mostra como evitar a procrastinação.
Você já deve ter se pego dizendo essa frase milhões de vezes: “Amanhã eu começo”. Pode ser para começar um trabalho difícil, aquela tarefa chatinha que você precisa realizar ou até pra iniciar uma dieta. Você sabe exatamente o que tem que ser feito, muitas vezes até se programa com antecedência, põe na agenda, no alarme do celular, mas quando chega na hora… Não faz! A boca escorrega, sem querer, pra um pedaço de bolo de chocolate trufado. O tempo escorrega pra uma olhadinha no Facebook, pra checar as mensagens do WhatsApp, pra trocar uma ideia com um colega, pra fazer outro trabalho… Quando vê, o tempo passou… :O!!! E você só empurrou a tarefa com a barriga! (Ou, no caso da dieta, só aumentou a sua barriga!). Mas, afinal, por que procrastinamos?
Às vezes parece que a gente não manda na gente, não é? Fazemos tantos planos e não conseguimos cumprir. E aí dá aquela sensação de derrota, vem a culpa, o desânimo. Mas o fato é que, na verdade, não é que a gente não mande na gente, mas o cérebro que tem um funcionamento 2 em 1. O que isso quer dizer? Ele é movido por dois sistemas que atuam bem juntinhos, entrelaçados, e temos pouco controle sobre quando um ou outro entra em ação. O fato é que um deles age de forma consciente e o outro não, e aí a sensação de que não mandamos em nós mesmos.
Emoção e razão
A neurociência explica que o primeiro sistema é o chamado límbico, que é emocional, e o segundo sistema é o mais racional e cognitivo, controlado pelo Córtex Pré-Frontal (que fica no cérebro bem na região da nossa testa). O sistema 1 age muuuito rápido, atua mais no presente, com respostas imediatas. Ele é movido pelo momento, pelas sensações que captamos do ambiente e provoca reações fortes. É ele o responsável pelas atitudes impulsivas, manifestações de raiva, euforia ou pelo ataque à caixa de bombons. Ele quer recompensas imediatas. O segundo é beeeem mais lento, ele atua no planejamento, em organizar ações no futuro, é o responsável pelo controle das emoções e também dessas vontades súbitas. Mas o problema é que ele é mais devagar, quando ele chega, o outro sistema já fez você devorar um pedaço de torta, abrir a caixa de e-mails pra uma mensagem, sair pro cafezinho… E aí só resta sentir culpa.
“Eu procrastino…”
… tu procrastinas, ele procrastina… Sua mãe, seu colega, seu vizinho também. É, claro, que uns mais, outros menos. Procrastinar é deixar tarefas importantes para amanhã, substituindo-as por outras sem importância ou mais prazerosas. Oscar Wilde, escritor irlandês e convicto procrastinador, dizia: “Nunca deixo pra amanhã o que posso fazer depois de amanhã”. Mas por que tanta gente procrastina nos dias de hoje?
Alerta de procrastinação
O pesquisador Ernesto Reuben, da Columbia University, descobriu que pessoas operando em estado de alerta são os piores procrastinadores, mesmo quando há dinheiro envolvido e podem deixar de ganhá-lo com a prorrogação da tarefa. Isso porque, o estado de alerta nos faz agir muito mais pelo sistema 1 (emocional) que pelo sistema 2 (racional). E, nos dias de hoje, com as novas tecnologias, o excesso de atividades, o agir simultaneamente em várias tarefas, a enxurrada de distrações, atualizações e lembretes que aparecem no celular, tudo isso faz com que estejamos sempre com a sensação de urgência, assim agimos pela emoção e procrastinamos! Estresse faz procrastinar!
Custos da procrastinação
Segundo Piers Steel, um dos mais famosos pesquisadores sobre o assunto, a procrastinação tem dois altos custos. O mais óbvio deles é a queda de produtividade, que implica em menos promoções no trabalho, menos dinheiro, menor performance, piores empregos, menor qualidade de vida. Mas o maior custo, este não tão óbvio e considerado o mais prejudicial pelo pesquisador, é que a procrastinação rouba o prazer de viver o presente. “Agora mesmo está um dia lindo, eu sei que tem crianças brincando lá fora e suas mentes estão focadas na brincadeira, estão completamente absortas no prazer dela. Você pode voltar para a sua infância e lembrar quando você não tinha nada que pensar sobre o dia seguinte e podia ficar totalmente absorto no prazer daquele momento. Isso é o que a procrastinação rouba de você”, diz Steel.
Martelando a mente
O grande problema da procrastinação é que, apesar de você deixar a tarefa pra depois, ela não sai da sua mente. Você faz outras coisas, mas a tarefa fica te incomodando o tempo todo, martelando sua mente, angustiando, dando a sensação de impotência. Você não faz a tarefa, mas também não se permite viver plenamente o presente, você conversa com o colega, mas fica a culpa então não se entrega ao momento, você entra no Facebook, mas isso gera um incomodo e fica com a sensação de que está fazendo algo errado. Isso causa uma enorme ansiedade e pode ser bastante prejudicial à saúde. Quando se está procrastinando, não se consegue aproveitar o presente e vivê-lo por inteiro.
“Mas por que eu procrastino?”
Fadiga, frustração, falta de motivação, rebelião, dificuldade para executar tarefas complexas, estresse e até perfeccionismo. Por exemplo, quando estamos cansados, o cérebro tende a querer tomar o caminho mais fácil e procrastinamos a tarefa mais complexa. Às vezes, procrastinamos por que queremos fazer tão perfeito que dá muito trabalho, e aí parece complexo demais e fica difícil começar. A ironia do perfeccionismo é que a vontade de acertar é tão grande que pode acabar inibindo a ação por medo do erro, fazendo procrastinar sucessivamente.
Motivos não tão óbvios
As razões pelas quais procrastinamos nem sempre são tão óbvias. A neurocientista Carla Tieppo explica (saiba mais no vídeo Love Live Neurociência – Procrastinação) que muitas vezes procrastinamos por uma carência inconsciente de atenção. “Se você for visto no seu trabalho como extremamente atarefado, atribulado, isso vai te trazer inconscientemente recompensas, isso vai fazer com que as pessoas tenham empatia por você”, explica. Ela diz que, às vezes, nos colocamos em maus lençóis para usar essa situação como forma de obter algum grau de reconhecimento. O nosso cérebro é bastante complexo e as razões de procrastinarmos também.
Driblando a procrastinação
Timothy Pychyl, pesquisador do departamento de psicologia da Carleton University, no Canadá, dá dicas para driblar a procrastinação.
1- Quebre as metas em metas menores. Coisas grandes pertencem ao futuro, assustam e são difíceis de ser concretizadas.
2- Pense no próximo passo executável. A ideia é pensar: “se eu fosse fazer isso, qual seria o primeiro passo que eu posso fazer agora?”
3- Tente controlar as interferências do ambiente. O ambiente interfere na procrastinação, então afaste os distratores. Não ligar a televisão, deixar o celular em modo avião, procurar um local em que outras pessoas não o interrompam.
4- Construa um planejamento do dia. Crie a rotina matinal de fazer o planejamento do dia e siga-o à risca.
5- Recompense-se! Crie pequenas recompensas para as suas pequenas vitórias. “Se eu conseguir escrever 10 páginas, vou tomar um sorvete ou gastar 10 minutos vendo vídeos na internet“.
6- Comece! Quando você faz algum progresso, isso fará a diferença na sua motivação, mudando a percepção sobre a sua tarefa e sobre si mesmo.
A hora é agora!
De acordo com Carla Tieppo, “o desafio não está no futuro, em planejar aquilo que você vai fazer, o desafio está no presente, em menos de um segundo, no momento em que você provoca em si mesmo um momento eruptivo, abrupto, de realizar aquela tarefa que planejou”. Para a neurocientista, só existe essa forma de você colocar efetivamente em prática os planos que você determinou. Planejar facilita, mas só conseguirá cumprir se você se mobilizar no presente. A hora da ação é agora!
E aí? Está pronto para iniciar aquela tarefa que vem procrastinando? A hora é agora!
Aprender neurociência é conhecer a forma como nosso cérebro interpreta o mundo e como as nossas emoções influenciam as nossas reações e nosso comportamento!
Como proporcionar a mudança na vida das pessoas sem entender as bases emocionais do cérebro e os padrões de comportamento?
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